sábado, abril 04, 2009

A UMBANDA QUE ERA DE TODOS NÓS

Quando W.W. da Matta e Silva escreveu, em 1956, a obra "Umbanda de Todos Nós", realmente poderiamos nos referir à Umbanda desta forma. Era uma religião livre, libertária, com poucos livros sobre o assunto (a maioria de conteúdo, no mínimo, contestável), com poucos "orgãos de cúpula", onde ninguém tentava ser o dono da 'Banda'.

É claro que mesmo naquela época já haviam os vendilhões, enganadores, os que enriqueceram não somente dentro da Umbanda, mas também no Candomblé, com seus "trabalhos, demandas, adivinhações", venda de ilusões, e tudo mais. Estes, inclusive, eram os alvos preferidos de Matta e Silva em seus livros e artigos para jornais e revistas.

A Umbanda, assim como o Candomblé e outras religiões de origem afro-ameríndia, eram marginalizadas, seus adeptos perseguidos, presos, surrados, mas continuavam praticando seus ritos por fé e amor aos Orixás, não com a intenção de vender livros, promover workshops, oferecer cursos de magia disto ou daquilo, assim como de toques, formação de ogãs e tudo mais.

Apesar de todas as dificuldade, a maioria praticava a religião pela religião, e não com interesses escusos, onde a glória, a fama, onde aparecer em jornais, revistas, televisão e, mais recentemente, pela internet, era o objetivo principal.

Hoje, apesar de muitos discordarem de mim, a Umbanda vive um momento extremamente perigoso e obscuro.

Com o surgimento da Faculdade de Teologia Umbandista, criada e dominada por F. Rivas Neto, conhecido como 'Mestre Arapiaga', 'Pai Rivas', "Yamunishidda Arhapiagha", e seja lá mais quantos títulos e nomes que o cidadão tem, a Umbanda passa a ser dominada por conceitos e imposições que tomam a forma de "ensinamentos acadêmicos".

A FTU, na verdade, é o "pulo do gato" de Rivas Neto para solidificar sua liderança e controle no meio umbandista. O apoio que recebe das grandes lideranças religiosas, tenho de confessar, é impressionante, inclusive de pessoas que, não faz muitos anos, eram inimigas juradas do pessoal da Vila Alexandrina.

O plano é simples: escudados por uma instituição de nível superior reconhecida pelo MEC, o pessoal da OICD está muito à vontade para impor seus conceitos e idéias sobre o que é realmente a Umbanda. O que a FTU faz é simplesmente trocar uma ditadura por outra.

Explico.

Antigamente havia uma verdadeira guerra para se apontar a "verdadeira" Umbanda. Debates apaixonados eram seguidos, não raramente, por trocas de ofensas, ameaças e tudo mais. Todos, salvo honrosas exceções, queriam estar com "A" verdade, praticando a "Verdadeira" Umbanda. O mais irônico que entre os extremistas estavam exatamente os discípulos de Rivas Neto, que viviam nas listas de discussões emitindo conceitos nem um pouco "convergentes" ou com o mínimo de respeito à "diversidade".

Umbanda, para Aramaty, Obashanan, Araobatan, Babajinan e outros "ys" e "ans" era aquilo que Rivas Neto dizia e ponto final. O resto, em especial quem seguia as idéias de Rubens Saraceni, estavam no engano, eram fantoches de kiumbas.

Nos dias atuais, a coisa não mudou muito, já que para todos os "ys" e "ans", Umbanda continua sendo aquilo que "Pai Rivas" diz que é. Só que deixaram de lado as críticas às várias doutrinas e ritos dentro e fora da religião umbandista para, ao contrário, se renderem e processarem todos eles.

Então, como por um passe de mágica, Rivas Neto, além de iniciado na doutrina de Umbanda Esotérica e no Omolokô, passa a ser também sacerdote de Catimbó, conhecedor profundo do Xambá, Torê e do Candomblé, etc, doutrinas estas, diga-se de passagem, que sempre combateu em seus livros anteriores a fase "convergência e diversidade.

Outrora "coisas de kiumbas", os sacrifícios de animais são comuns na OICD e nos ritos promovidos pela FTU. Antes instrumentos que poderiam causar "cardiopatias graves", atabaques são tocados por "alabês", com direito a curso e tudo mais dentro das dependências da faculdade. Houve um fenômeno interessante neste processo todo: quem outrora queria converter toda a comunidade umbandista aos seus conceitos, foi convertido.

Obviamente, esta "conversão" de Rivas Neto às práticas condenadas pela doutrina da Umbanda Esotérica na qual, infelizmente, ele foi iniciado por Mestre Yapacani, têm um objetivo que vemos muito claro e delineado com a fundação da Faculdade de Teologia Umbandista: controle e poder.

Uma proposta como a FTU não se sustentaria em cima de uma só doutrina, visto que a Umbanda Esotérica, como já dito, condena a maioria das práticas da chamada Umbanda tradicional. Ele, Rivas Neto, jamais conseguiria o destaque e o trânsito que tem dentro da comunidade umbandista se continuasse a defender aquilo que seu Mestre ensinou e que ele também acreditava, tanto que colocou em seus livros.

Então, Rivas Neto e seu "Estado Maior", delinearam ações bem pensadas para chegar ao lugar que estão hoje. Em primeiro lugar, instituiram dentro da OICD os "Sete Ritos", onde em cada dia da semana, procedia-se reuniões com base em determinado rito umbandista. Isto já quebrou um pouco a resistência da comunidade em relação à OICD.

Em seguida, intensificaram nas listas e comunidades do Orkut, ataques ao trabalho de Rubens Saraceni, situações estas, obviamente, nenhum dos "grandes" da OICD aparecem diretamente envolvidos, usando para isto discípulos menores e simpatizantes para perpertuar os ataques.

Isto se deve porque a turma da Vila Alexandrina sabe e reconhece que a única liderança que pode fazer frente aos seus planos é o pessoal da Umbanda Sagrada de Rubens Saraceni. Tanto que continuam atacando o trabalho dele nas listas, em especial na "Apometria e Umbanda", de responsabilidade do Sr. João Carneiro.

Assim, escudado, como já disse, por uma instituição de ensino superior reconhecida oficialmente. Rivas Neto passa a fazer massiva propaganda ideológica, pregando "diversidade e convergência", e rotulando qualquer um que não coadune com suas idéias de "retrógado" e "fundamentalista".

Ao que parece, Rivas Neto e os seus só aceitam a "diversidade" de pensamento se este não entrar em choque com a suas idéias. A "convergência" só é aceitável quando tudo, assim como os rios correm para o mar, as posturas e idéias estejam alinhadas com a OICD/FTU.

Como eu disse, trocou-se uma ditadura por outra, mas com o mesmo ideal: que todos os umbandistas sigam as idéias de Rivas Neto e das intituições por ele criadas, sejam elas com características absolutistas e intolerantes como no passado ou, como no momento atual, posturas igualmente draconianas e absolutas, só que com um verniz mais simpático disfarçado de "tolerância".