É como eu sempre digo: posso viver centenas de anos e jamais deixarei de me espantar com as atitudes dos seres humanos e das instituições por eles criadas. O caso da menina de nove ano grávida de gêmeos após ter sido estuprada por seu padrasto e a posição retórica, anti-cristã, caduca e insensata do Bispo de Recife e Olinda, Dom José Cardoso Sobrinho, é um dos mais recentes exemplos disto.
Poderiamos começar falando da questão legal da situação.
A legislação brasileira permite o aborto em algumas situações extraordinárias, dentre elas ser a gravidez fruto de violência sexual ou quando coloca em risco a vida da gestante. No caso da menina, houve a ocorrência das duas hipóteses: foi estuprada e seu corpo não resistiria a gravidez de gêmeos o que a levaria, com quase absoluta certeza, ao óbito durante o parto.
Como vivemos em um Estado laico, ou seja, separado da qualquer tipo de Igreja, com um ordenamento jurídico próprio, não baseado no Direito Canônico da Igreja Romana (Graças aos Céus), a legalidade da interrupção da gravidez, dos pontos de vistas ético, legal, moral e social, é indiscutível.
Não seria razoável exigir não somente desta criança, mas também da sua mãe e demais familiares, colocar em risco a própria vida depois de toda a violência que passou aumentando, assim, o sofrimento de seus entes queridos.
Por outro lado, a Igreja Católica, representada pelo Bispo de Recife e Olinda, dá uma demonstração de falta de humanidade, bom senso e, porque não dizer, espírito cristão ao excomungar a mãe da menina e a equipe médica que realizou o procedimento, repito, dentro de todas as normas éticas e legais que vigoram neste país.
Particularmente, não vejo a excomunhão (assim como a canonização) como nada mais do que um delírio megalômano de um homem e de uma institução que se dizem representantes de Deus na Terra.
Da mesma forma que um decreto papal não coloca ninguém, em termos fatídicos, como um santo, muito menos tirará quem quer que seja da presença e da comunhão com Deus. Portanto, dois (dos muitos) atos que a Igreja Católica leva a termo e, na prática, não tem o menor resultado pratico, exceto o desperdício de papel e tinta.
Mas se em termos práticos a excomunhão não atinge seu objetivo (tirar a pessoa da comunhão com Deus), em termos sociais, ainda mais na região nordeste do Brasil, a coisa é muito mais séria e complicada.
Como se não bastassem a humilhação e o sofrimento pelo qual passam a criança e seus familiares, em uma sociedade extremamente religiosa como a nordestina, terão agora de carregar o estigma de serem, as "excomungadas". Quem conhece a religiosidade no interior do nordeste sabe bem o peso disto.
Há de ser questionar também se a Igreja Católica e o Bispo de Recife e Olinda, no caso da família haver decidido levar a gravidez adiante mesmo com todos os riscos que apresentava, iriam dar todo o suporte financeiro para que as crianças e a jovem mãe (na improvável hipótese de sobreviver ao parto) tivessem uma vida digna.
De certo que a Cúria Metropolitana se responsabilizaria por alimentar, educar, prover moradia, saúde e todo o tipo de assistência àquela família. Quem sabe o Bispo cederia a própria residência episcopal para acolhê-los, não é mesmo?
É claro que nada disto aconteceria.
O "Poder Escarlate" depois de "vencer" a luta pela manutenção da gravidez da menina, simplesmente abandonaria mãe e filhos à própria sorte, não dando o mínimo de atenção ou apoio material à eles.
Muito mais do que uma questão religiosa, o posicionamento arcaico, retrógado, estúpido da Igreja Católica nada mais foi do que uma tentativa de demonstrar poder sobre a vida dos outros e impor sua visão sobre coisas que não lhes dizem respeito.
O mais interessante nesta história toda é que o estuprador não foi excomungado.
O sujeito pratica um crime bárbaro, hediondo como este e a Igreja não considera isto sério o suficiente para tomar a atitude extrema de "tirá-lo da comunhão com Deus".
Isto me lembra a infeliz frase do então Governador de São Paulo, à época, Paulo Maluf: "estupra, mas não mata".
Diante da falta de "punição" oficial da Igreja ao estuprador, entendo que o Bispo deva ser partidário deste pensamento, já que os que "mataram" foram excomungados pela Igreja mas o que estuprou não. Aliás, a tradicional falta de punição para padres e bispos pedófilos por parte do Vaticano, combinado com este fato, nos leva a crer que estão protegendo a classe e "legislando" em causa própria.
Afinal de contas se o Papa excomungasse todo religioso católico envolvido em pedofilia e estupro, iria haver um déficit imenso de auxiliares.
A igreja católica nos EUA que o diga.
Poderiamos começar falando da questão legal da situação.
A legislação brasileira permite o aborto em algumas situações extraordinárias, dentre elas ser a gravidez fruto de violência sexual ou quando coloca em risco a vida da gestante. No caso da menina, houve a ocorrência das duas hipóteses: foi estuprada e seu corpo não resistiria a gravidez de gêmeos o que a levaria, com quase absoluta certeza, ao óbito durante o parto.
Como vivemos em um Estado laico, ou seja, separado da qualquer tipo de Igreja, com um ordenamento jurídico próprio, não baseado no Direito Canônico da Igreja Romana (Graças aos Céus), a legalidade da interrupção da gravidez, dos pontos de vistas ético, legal, moral e social, é indiscutível.
Não seria razoável exigir não somente desta criança, mas também da sua mãe e demais familiares, colocar em risco a própria vida depois de toda a violência que passou aumentando, assim, o sofrimento de seus entes queridos.
Por outro lado, a Igreja Católica, representada pelo Bispo de Recife e Olinda, dá uma demonstração de falta de humanidade, bom senso e, porque não dizer, espírito cristão ao excomungar a mãe da menina e a equipe médica que realizou o procedimento, repito, dentro de todas as normas éticas e legais que vigoram neste país.
Particularmente, não vejo a excomunhão (assim como a canonização) como nada mais do que um delírio megalômano de um homem e de uma institução que se dizem representantes de Deus na Terra.
Da mesma forma que um decreto papal não coloca ninguém, em termos fatídicos, como um santo, muito menos tirará quem quer que seja da presença e da comunhão com Deus. Portanto, dois (dos muitos) atos que a Igreja Católica leva a termo e, na prática, não tem o menor resultado pratico, exceto o desperdício de papel e tinta.
Mas se em termos práticos a excomunhão não atinge seu objetivo (tirar a pessoa da comunhão com Deus), em termos sociais, ainda mais na região nordeste do Brasil, a coisa é muito mais séria e complicada.
Como se não bastassem a humilhação e o sofrimento pelo qual passam a criança e seus familiares, em uma sociedade extremamente religiosa como a nordestina, terão agora de carregar o estigma de serem, as "excomungadas". Quem conhece a religiosidade no interior do nordeste sabe bem o peso disto.
Há de ser questionar também se a Igreja Católica e o Bispo de Recife e Olinda, no caso da família haver decidido levar a gravidez adiante mesmo com todos os riscos que apresentava, iriam dar todo o suporte financeiro para que as crianças e a jovem mãe (na improvável hipótese de sobreviver ao parto) tivessem uma vida digna.
De certo que a Cúria Metropolitana se responsabilizaria por alimentar, educar, prover moradia, saúde e todo o tipo de assistência àquela família. Quem sabe o Bispo cederia a própria residência episcopal para acolhê-los, não é mesmo?
É claro que nada disto aconteceria.
O "Poder Escarlate" depois de "vencer" a luta pela manutenção da gravidez da menina, simplesmente abandonaria mãe e filhos à própria sorte, não dando o mínimo de atenção ou apoio material à eles.
Muito mais do que uma questão religiosa, o posicionamento arcaico, retrógado, estúpido da Igreja Católica nada mais foi do que uma tentativa de demonstrar poder sobre a vida dos outros e impor sua visão sobre coisas que não lhes dizem respeito.
O mais interessante nesta história toda é que o estuprador não foi excomungado.
O sujeito pratica um crime bárbaro, hediondo como este e a Igreja não considera isto sério o suficiente para tomar a atitude extrema de "tirá-lo da comunhão com Deus".
Isto me lembra a infeliz frase do então Governador de São Paulo, à época, Paulo Maluf: "estupra, mas não mata".
Diante da falta de "punição" oficial da Igreja ao estuprador, entendo que o Bispo deva ser partidário deste pensamento, já que os que "mataram" foram excomungados pela Igreja mas o que estuprou não. Aliás, a tradicional falta de punição para padres e bispos pedófilos por parte do Vaticano, combinado com este fato, nos leva a crer que estão protegendo a classe e "legislando" em causa própria.
Afinal de contas se o Papa excomungasse todo religioso católico envolvido em pedofilia e estupro, iria haver um déficit imenso de auxiliares.
A igreja católica nos EUA que o diga.