terça-feira, fevereiro 10, 2009

EU GOSTO É DE COERÊNCIA

Ontem, a FTU transmitiu através do seu site, ao vivo, o "Manifesto da Conferência de Magia Oracular", onde Rivas Neto (Pai Rivas - Arapiaga) fez longa exposição sobre tal evento, com ares cinematográficos para variar.

Devo dizer que não assisti a transmissão, visto que tinha outros compromissos no horário e quando fui à página da FTU a mesma já havia se encerrado. Certamente o arquivo será disponibilizado futuramente, assim como acontece com as video-aulas ministradas por Rivas Neto.

Não posso comentar sobre tal evento, mas tenho elementos para fazê-lo em relação a manifestação do diretor de relações públicas do CONUB e discípulo de Arapiaga, João Luiz de A. Carneiro. É impressionante a propaganda, verdadeiro culto à personalidade de Rivas Neto, em todo e qualquer texto deste cidadão.

Em seu longo email intitulado "Manifesto da Conferência de Magia Oracular produz reflexões profundas sobre a Diversidade", João Carneiro dá uma verdadeira aula de puxa-saquismo.

Logo no segundo parágrafo, escreve:

"Antes de discutir alguns conceitos interessantíssimos da transmissão, não poderíamos deixar de registrar em primeiro lugar a escolha do local. Passar o manifesto próximo de plantas que são expressões dos Orixás, imagem de um Caboclo e de santos católicos que representam o nosso sincretismo foi um sinal de bom gosto e afinidade com a diversidade. Ao mesmo tempo, assistimos Pai Rivas expressar suas idéias com clareza e objetividade. Mais uma vez presenciamos como o sacerdote umbandista possui simplicidade e facilidade para se comunicar com o povo, característica esta forjada em décadas dentro do terreiro."

Esquece a cerne principal do tal manifesto e, para variar, preocupa-se em enaltecer a figura de Rivas Neto. Faltou escrever algo como "meu pai-de-santo é o cara!!!".

Isto, aliás, me lembra a última vez que estive na OICD, isto lá pelos idos de 2001/2002, quando no início da reunião, Babajinan comenta sobre algo interessante que o "Exu" Capa-Preta, que trabalha com Rivas Neto, disse e emenda: "aliás, tudo que o Sr. Capa Preta diz é interessante".

Diga-se de passagem, João Carneiro é famoso nas listas de discussões por escrever como se o estivesse fazendo para uma banca examinadora universitária. É verborrágico, de uma garrulice (hábito de muito falar, de tagarelar) ímpar, com o intuito de impressionar e demonstrar cultura frente à comunidade.

Algumas partes do seu e-mail, no entanto, chamam a atenção.

A primeira diz respeito à tal diversidade e as críticas a idéias no meio umbandista. Vejamos:

"Logo em seguida, Pai Rivas faz um questionamento que certamente foi a de vários internautas. Então não podemos criticar nenhuma idéia? A resposta foi profunda, mas sem perder a simplicidade de um pai de santo. Para Pai Rivas, e concordamos com ele, criticamos as idéias que prejudiquem o movimento umbandista."

Parece muito profundo, lógico, sensato, não é mesmo?

A questão é saber QUEM define o que é ou não prejudicial ao movimento umbandista, qual seria o norte a nos guiar afim de tomarmos posições contrárias à idéias e iniciativas dentro da religião. Obviamente, nada que vier de Rivas Neto pode ser criticado, visto que na visão dele, tudo que faz é divino, tem um certo "toque de midas" e, portanto, acima está de qualquer crítica.

Por outro lado, como vemos a seguir, tudo que Rubens Saraceni faz se enquadra, na visão de Rivas Neto, no campo de "prejudicial" à Umbanda. Senão, vejamos:

(...)

".. a seita poderia ser exemplificada, como foi dito no Manifesto, criar Orixás diferentes a partir de qualidades de um mesmo Orixá. Isto certamente confrontaria a nossa história, a nossa Tradição."

Ele se refere a "Yansã Egunitá" revelada por Rubens Saraceni como um Orixá "oculto", que não seria uma "qualidade" de Yansã/Oyá como é de conhecimento corrente dentro do Candomblé. Assim desmerece o trabalho do Saraceni, além de taxar a sua Escola Umbandista como "seita". E vem falar sobre etnocentrismo, misoneismo, milenarismo?

Isto sem falar que defende que aqueles que "vivem a diversidade, não podem criticar outras Escolas". Ao contrário, "o conceito de Escolas é profundo e nos remete ao respeito incondicional à forma como cada Escola compreende e vivencia o Sagrado."

O "respeito profundo", pelo jeito, não se aplica à "Umbanda Sagrada" de Rubens Saraceni.

Ou seja: novamente o discurso da OICD/FTU se distancia da prática. Se a proposta é ser plural e incentivar a diversidade, então devem aceitar desde as famigeradas matanças, passando pelas fantasias carnavalescas e, inclusive, o tal Orixá criado pelo Sarraceni
.

Diversidade e tolerância, no meu entender, é como caridade: não se faz ou se tem pelas metades.

Se aqueles que não admitem matanças, balangandãs e cocares com penas de meio metro, como aquele usado por Rivas Neto quando "incorporado" pelo "caboclo", são taxados de "sectaristas", então o são também os que criticam a doutrina de Saraceni. o que inclui o pessoal da OICD/FTU.

Em verdade, como venho há tempos escrevendo, este papo de "pluralidade, diversidade, convergência, convivência pacífica" pregado pela OICD/FTU é uma forma de dominação da religião. O que se pretende, inclusive com esta exaustiva, descarada e piegas propaganda da personalidade de Rivas Neto é colocá-lo como o grande reformador e unificador da religião.

É muito estranho que alguém que insiste em mostrar desapego à cargos (claro, já que por trás quem manda é ele mesmo) e que demonstre uma humildade ímpar ao negar-se a fazer parte de um projeto sobre os "decanos da Umbanda", tenha um culto à personalidade tão forte entre seus discípulos, que espalham isto publicamente de forma descarada.

O João Carneiro fala muito sobre "seitas", mas esquece que uma das características mais marcantes nelas é o culto à personalidade do seu líder, como é o caso da OICD.

Rivas Neto é tido como uma espécie de avatar, um semi-deus (dai o título pomposo de "Yamunisiddha"), sendo que seus discípulos, como podemos ver neste vídeo, se ajoelham e beijam suas mãos quando vão pedir a benção.

Eu fico aqui imaginando se estas pessoas fazem o mesmo com seus pais carnais, aqueles que lhes deram a vida e os criaram. Com certeza que não.

O mais ridículo nesta situação, que chega às raias de duvidarem da inteligência da comunidade umbandista, são os "convites públicos" trocados pelo CONSUB/CONUB/OICD/FTU, como se não fossem entidades "sombras" uma das outras.

Em um primeiro momento vem Silvio Garcez (Aramaty - presidente do CONUB) e convida a FTU para algum evento. Logo depois, João Carneiro, como "umbandista" exalta e parabeniza a iniciativa, para em seguida, assinando como "diretor de relações públicas" daquela instituição reiterar o convite e mais tarde informar que foi aceito pela faculdade.

Logo depois vem todo o séquito de puxa-sacos (mestres, discípulos e simpatizantes de Rivas Neto) aplaudindo a "união" entre as instituições.

Isto tudo é um jogo... mas, ao que parece, ninguém percebe os dados rolando.