terça-feira, julho 29, 2008

A ETERNA POLÊMICA SOBRE A LEI DE SALVA

Que existe muita hipocrisia no meio umbandista, todos sabemos.

Muitos dos que se dizem umbandistas pregam uma coisa e agem de forma completamente adversa ao seu discurso. É a famosa política do "faz o que eu mando e não olhe o que eu faço". Parece até que foram agraciados com uma espécie de "imunidade" pelo Astral, pois em seus livros, suas palestras, seus workshops, sempre estão posando como austeros Sacerdotes, falando que estão na Umbanda sem interesses financeiros ou que não vivem dela.

Mas nos bastidores...

Em minha opinião, o assunto mais polêmico (e tratado de forma mais hipócrita) dentro da Umbanda é a chamada "Lei de Salva" ou, se preferirem, "Lei de Amra".

Existe um tradicional costume, registrado em antigos arquivos místicos, conhecido como Lei de Amra. Essa lei chegou a ser uma doutrina sagrada entre os antigos egípcios e, mais tarde, entre os povos judeus, em suas práticas religiosas. Foi e ainda é uma lei mística, embora alguns tentem deturpá-la em proveito próprio e convertê-la em uma lei puramente material, chamando-a de dízimo.

Este é o teor da original Lei de Amra, de acordo com os Ensinamentos Rosacruzes:

Se orarmos ao Deus de nosso coração, fazendo um pedido ou buscando ajuda especial por causa de algum problema de ordem física, emocional, mental, espiritual ou material, ou mesmo se pedirmos ascensão social ou auxílio em negócios, e a prece for ouvida e o pedido concedido, será nossa obrigação fazer alguma compensação, não somente por meio de uma prece de agradecimento, mas, também, levando a outros uma pequena parte do benefício recebido, seja uma quantia em dinheiro ou qualquer outra coisa material que possa ser usada para fazer mais feliz alguma outra pessoa ou, de alguma maneira, melhor colocá-la em paz com o mundo. A menos que façamos isso sempre que recebermos uma bênção, não poderemos pedir com justiça, no futuro, outras bênçãos.


Vejamos agora o que Matta e Silva (Mestre Yapacani) fala sobre o mesmo assunto, lembrando que o mesmo era iniciado nos mistérios R+C, assim como na Maçonaria. Para constatar isto, como já orientei em outro artigo, basta ler as dedicatórias na obra "Umbanda - Sua Eterna Doutrina". Quem souber "ler", saberá identificá-lo como um Frater e um "Filho da Viúva"...

Atentemos às palavras do Mestre, em sua obra “Umbanda e o Poder da Mediunidade” (1987 - 3a. edição - Livraria Freitas Bastos p. 77-80):

“Mas o que é, em verdade, a lei de salva? Tentaremos explicar isso direitinho, pondo os pontos nos ii, que é para tirarmos a máscara de muitos falsos “chefes-de-terreiros”ou “babá”, ou que outro qualificativo lhes queiram dar, que fazem disso a “galinha de ovos de ouro”…

Essa lei de salva é tão antiga quanto o uso da magia. Existe desde que a humanidade nasceu.

Os magos do passado jamais se descuidavam de sua regra, ou seja, da lei de compensação que rege toda ou qualquer operação mágica, quer seja para empreendimentos de ordem material, quer implique em benefícios humanos de qualquer natureza, especialmente nos casos que são classificados na Umbanda como de demandas, descargas, desmanchos etc. Dessa lei de salva, ou regra de compensaçào sobre os trabalhos mágicos, nos dão notícia certos ensinamentos esotéricos com a denominaçào de lei de Amra…

Nenhum magista pode executar uma operação mágica tão somente com o pensamento e “mãos vazias” - isto é, sem os elementos materiais indispensáveis e adequados aos fins…

Essa história de pura magia mental é conversa para entreter mentalidades infantis ou não experimentadas nesse mister.

Qualquer ato ou ação de magia propriamente dita requer os materiais adequados, sejam eles grosseiros ou não. Vão dos vegetais às flores, aos perfumes, aos incensos, as plantas aromáticas, às águas dessa ou daquela procedência até ao sangue do galo ou bode preto.

A questão é definir o lado: - ou é esquerda, ou é direita, negra ou branca.

Ora, como toda ação mágica traz sua reação, um desgaste, uma obrigação ou uma responsabilidade e uma consequência imprevisível (em face do jogo das forças movimentadas) é imprescindível que o médium-magista esteja coberto ou que lhe seja fornecida a necessária cobertura material ou financeira a fim de poder enfrentar a qualquer instante essas possíveis condições…

Então é forçoso que tenha uma compensação. Aí é que entra a chamada lei de salva, ou simplesmente SALVA…

Mesmo porque, todo aquele que, dentro da manipulação das forças mágicas ou da magia, dá, dá e dá sem receber nada, tende fatalmente a sofrer um desgaste, pela natural reaçào de uma lei oculta que podemos chamar de vampirização fluídica astral, que acaba por lhe enfraquecer as forças ou as energias psíquicas…

E naturalmente o leitor, se é médium inciado na Umbanda, nessa altura deve estar interessadíssimo em saber como será essa compensação. Claro, vamos dizer como é a regra, para que você possa extrair dela o que seu senso de honestidade ditar: DE QUEM TEM, PEÇA TRÊS, TIRE DOIS E DÊ UM A QUEM NÃO TEM; E DE QUEM NÃO TEM, NADA PEÇA E DE ATÉ DE SEU PRÓPRIO VINTÉM.(…)

É claro que essa lei de salva ou de compensação, própria e de uso exclusivo em determinados trabalhos de magia, não pode ser aplicada em todos os “trabalhinhos” corriqueiros que se pretenda ser de ordem mágica.”
(negrito e itálico nossos)

Portanto, como podemos ver, doutrinariamente a Lei de Salva é algo lícito, desde que seja exigida de forma honesta, dentro dos parâmetros místicos que definem tal prática. Ela pode (e deve) ser aplicada nos casos em que o médium se depare com uma demanda pesada onde necessitará de resguarda-se das consequências da batalha espiritual que trava.

Percebam que a Lei de Salva não pode ser usada, como uns e outros que conhecemos aqui em Belo Horizonte, que vive da Umbanda fazendo defumações caseiras, jogando cartas ciganas e levando a cabo "mil e um" trabalhinhos para encher seu bolso com o dinheiro dos crédulos (e ainda se diz "pai", sendo conselheiro de um determinado "orgão nacional" umbandista), para trabalhos corriqueiros, que se pretendem "magísticos".

Não... a Salva só pode ser cobrada quando há necessidade de que o médium magista se resguarde dos impactos que possam advir de seu envolvimento com quebra de demandas pesadas. Mesmo assim, não é, obrigatoriamente, feita em dinheiro, podendo ser paga com os materiais necessários para a manutenção do Terreiro e as firmezas que o médium necessitar para a sua própria proteção.

Quando a Salva for paga em espécie, deve-se atentar ao que Meste Yapacani ensina, ou seja, retirar dois terços e dar um à quem não tem. Este ato pode ser levado à cabo doando aquele terço à um necessitado na rua, à uma instituição de caridade ou algo semelhante. Por outro lado, se o consulente não tem condições para financiar o trabalho do qual necessita, é OBRIGAÇÃO do médium magista providenciar o que for necessário usando do seu próprio "vintém".

Há de se registrar, todavia, que a grande maioria dos que procuram os nossos Terreiros querem apenas receber, sugar, vampirizar. Conheço caso de pessoas que frequentam há anos determinada Casa Espiritual (levando "casos atrás de casos..) e jamais foram capazes de doar um maço de vela sequer. E não estou me referindo às pessoas carentes e sim de posses, que chegam aos Terreiros em carros de luxo, mas acreditam que é obrigação daquele grupo atender todas as suas necessidades, sem nenhum tipo de retorno de sua parte.

Seria interessante que os assistentes, as pessoas que recorrem todos os dias aos milhares de Terreiros de Umbanda espalhados por este nosso país, tomassem consciência de como é difícil e despendioso manter uma Casa Espiritual. É de bom tom, que todos aqueles que noite após noite estão ali buscando a solução dos seus problemas, auxiliassem na manutenção da Casa já que, junto com os integrantes da mesma, é grandemente beneficiado.

A Lei de Salva, portanto, é via de mão dupla. Lembrando que não será nenhum grande sacrifício por parte daquele que foi auxiliado também auxiliar no que puder.