sexta-feira, janeiro 23, 2009

VAMOS NOS CONFORMAR...?!?

O escritor português Fernando Pessoa, com notório envolvimento com o ocultismo e doutrinas esotéricas diversas, escreveu o seguinte:

Conformar-se é submeter-se e vencer é conformar-se, ser vencido. Por isso toda a vitória é uma grosseria. Os vencedores perdem sempre todas as qualidades de desalento com o presente que os levaram à luta que lhes deu a vitória. Ficam satisfeitos, e satisfeito só pode estar aquele que se conforma, que não tem a mentalidade do vencedor. Vence só quem nunca consegue.

A princípio, este pensamento pode parecer confuso e ilógico, mas se nos atentarmos bem à mensagem, veremos que Pessoa está coberto de razão.

Quando nos declaramos vencedores, achamos que conquistamos algo, perdemos a motivação para prosseguirmos na luta, então nos conformamos, nos acomodamos e passamos à letargia, até que apareça um novo desafio. Na visão de Pessoa, a vitória nos leva ao conformismo, portanto não se deve dar à ela tanta importância.

Particularmente, não pretendo vencer nada e nem ninguém, mas por outro lado também não desejo ser vencido e, de forma compulsória, ter de me submeter a quem quer que seja. Assim como o karma, devemos fazer de nossa luta, de nossos anseios, algo diário, buscando compreender as coisas a partir de nossas próprias experiências e perspectivas.

Infelizmente, dentro da realidade umbandista, as coisas não funcionam assim. Para ser justo, não somente na Umbanda, mas em qualquer outro sistema filo-religioso.

Desde os primórdios da humanidade, quando começamos a buscar comunicação com uma outra realidade diferente da nossa, buscamos pessoas que nos digam o que e como fazer isto. Assim nasceu a casta dos sacerdotes, aqueles privilegiados que mantêm ligação direta com a divindade, com o mundos dos espíritos, com anjos e demônios.

Os teurgos, hierofantes, magos, bruxos, mestres, padres, pastores, sacerdotes, nos dirão o que fazer. Afinal de contas, possuem privilégios invulgares, poderes místicos, visão "além do alcance" e um "quê" qualquer, não identificável pelos olhos profanos, que os qualifaca a falar em Nome de Deus, dos Santos, dos Espíritos, das Potestades...

Faz alguns anos que o Movimento Umbandista vem sendo disputado "à tapas" por várias facções e, realmente, houve uma evolução nesta verdadeira "guerra fatricida" com a facilidade de acesso à internet, a democratização da informação e, claro, a pirataria de obras sobre o tema.

Os seminários, encontros, congressos, wokshops, locutórios, se multiplicam e com eles o número de federações, conselhos, associações e tudo mais. A imposição de visões, conceitos e preceitos, idem. Apesar de a moda ser o "respeito às diferenças", isto só é válido para quem "respeita" da forma que um ou outro diz que se deve respeitar.

Em verdade, todos estes conceitos são impostos, ditados.

Se a sua leitura sobre isto divergir daqueles que, hipocritamente, os prega, então você passa a ser "singular" ao invés de diverso, "divergente" ao invés de "convergentes.

A forma "correta" de vivenciar tudo isto, parte do saber acadêmico, nos moldes de um faculdade de teologia umbandista, dos conselho criados e controlados por pessoas ligados à esta instituição de nível superior.

O pensamento da maioria é uma exemplo fantástico da falácia do apelo à autoridade: se isto provêm de pessoas que conseguiram criar uma faculdade, reconhecida pelo Governo, então só pode ser "A" verdade, o caminho certo a seguir.

Portanto, questionar por quê, para quê?

A "lógica" na cabeça da massa deve ser a seguinte:

"O Governo e a faculdade não podem estar erradas, por consequência, aqueles que a criaram e gerenciam também não."


"Vamos nos conformar", grita o gado em direção ao matadouro.

Sim... vamos nos conformar, por que não?

Vejamos o diretor da FTU cobrar coerência de Rodrigo Queiroz em relação ao conceitos expostos nos livros de Rubens Saraceni, que pratica coisa adversa ao que escreveu. Mas vamos fazer "vistas grossas" para a inúmeras contradições entre o que Rivas Neto escreveu e pratica hoje em dia.

Coloquemos em prática as tolerância, o respeito à difrenças, a liberdade de expressão e de cultuar a Umbanda da forma que entendemos certas, mas também sejamos tolerantes ao clima de vígilia policial, o regime de exceção, que os discípulos de Rivas Neto impõe nas listas de discussões e nas comunidades virtuais.

Esta tão decantada liberdade é restrita, pelo menos no meio virtual controlado por discípulo e simpatizantes do "iluminado da Vila Alexandrina" ao "alinhados", aos "conformados", que jamais terão a OUSADIA de escrever uma vírgula sequer contra o ideário e interesses do "Pássaro Pagê".

Vamos nos conformar... sim, por quê não?

Nos quedemos satisfeitos com que Rivas Neto, Rubens Saraceni e tantos outros por ai dizem. Não vamos perder nosso precioso tempo pensando, analisando, tirando nossas próprias conclusões.

Ignoremos por completo a truculência de alguns discípulos contra os "desalinhados", as contradições, a postura dúbia... afinal de contas, eles são os "arautos", os "atalaias" da Umbanda...

Fiquemos, portanto, todos satisfeitos... vamos fingir que o centenário do Advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas realmente jogou um "pó de pirlimpimpim" sobre o Movimento Umbandista, que o teólogos formados na FTU são os grandes condutores dele e, que realmente, o "Vaticano da Banda" esteja na Vila Alexandrina.

Continuemos sendo o gado conformado e deixemos de lado a mentalidade de vencedores. Ninguém é mais escravo do que aquele que falsamente se acredita livre.