sábado, janeiro 17, 2009

MONEY QUE É GOOD NÓIS NÃO HAVE

É uma grande tradição dentro do movimento umbandista a crítica contra tudo que diga respeito à dinheiro dentro de nossos Terreiros. É como se as Casas de Culto não tivessem de pagar contas de água, luz, telefone, além, é claro, as despesas com materiais ritualísticos como velas, pemba, fumo, bebidas, etc.

Tem uma turma que vive repetindo aquela famosa máxima espírita que diz "dai de graça o que de graça recebestes", mas realmente as coisas funcionam assim?

Particularmente acredito que tudo funciona muito bem na teoria, mas na prática as coisas não são bem assim e por vários motivos.

O primeiro deles é a hipocrisia, aliás, o que mais vemos na Umbanda.

É um tal de publicamente defender a gratuidade de tudo que se refere à Umbanda, inclusive trabalhos de magia, quebra de demanda, preceitos nas matas, cachoeiras e até mesmo, pasmem, oráculos. Mas em "oculto", os caras cobram "grosso" por qualquer velinha que forem acender. Conheço "pai-de-santo" que tem até cartão de visitas com seu nome em abaixo se lê "médium magista".

Já ouvi da boca de um determinado "famoso", que em caso de manipulação magísticas não deixava de cobrar Lei de Salva nem mesmo da mãe dele. Mas publicamente vemos alguns de seus discípulos com frases como "todos nós aprendemos e vivenciamos a Umbanda não assinando lista de presença ou cheques para pagar cursos, mas batendo a cabeça no Congá".

Estranho ler isto,  já que não faz muito tempo, este mesmo "famoso" fazia (assim como ainda faz) um tradicional rito de "Exu", que em seus primórdios era chamado de "workshop" e era cobrado regiamente o ingresso ao mesmo. Lembro-me (e ainda devo ter em algum lugar o "fly" deste evento) que o último que foi cobrado estava por volta de R$ 350,00, isto em época de real praticamente equiparado ao dólar.

Outra questão é que algumas coisas, obrigatoriamente, devem ser cobradas. É claro que não estamos falando de "salvas" extorsivas, mas justas dentro do preceito.

Os oráculos, preceitos em sítios sagrados, quebra de demanda, dentre outros, devem seguir o que determina a chamada LEI DE SALVA ou LEI DE AMRA. No primeiro link disserto sobre o assunto, assim como recomendo a leitura deste excelente artigo de Mestre Tashamara.  

O terceiro problema é a manutenção do Terreiro.

Uma das queixas mais frequentes que ouço de Chefes de Terreiros é a falta de compromisso da maioria dos médiuns com suas mensalidades. A maioria não se importa em gastar R$ 100,0 em uma "balada", mas jamais paga R$ 10,00 que sejam como contribuição dentro da Casa de Culto, por isto as despesas ficam nas costas dos poucos que tem o compromisso de auxiliar, quando o Chefe da Casa não assume tudo sozinho.

Ao que parece, a maioria dos médiuns se esquece que as contas de consumo (luz, água, etc) não se pagam sozinhas, assim como velas e outros recursos também não. São incapazes, inclusive, de levar o seu próprio material e, mesmo que impossibilitados de arcar com um compromisso mensal, não se prontificam ao menos a doar de vez enquando um pacote de velas que seja.

A assistência, salvo raras e honrosas exceções, sempre está indo BUSCAR, nunca DOAR. Como muito bem lembra um discípulo: "o salário dentro da Umbanda é a ingratidão."

Não estamos aqui defendendo uma cobrança de "entrada" para as gíras de nossos Terreiros, longe disto, apesar de sabermos que isto existe por ai. E sinceramente, cada um sabe onde seu "calo aperta" e não farei juízo de valor de quem utiliza desta forma compulsória de contribuição à Casa.

Mas também não defendo a posição de que absolutamente nada deva ser cobrado dentro do Terreiro, ou que cabe aos dirigentes e médiuns, exclusivamente, a responsabilidade pela manutenção do mesmo. 

Isto seria hipocrisia de minha parte, e dentre os meus inúmeros defeitos não se encontra este.

A história da humanidade nos mostra que os Templos e seus Sacerdotes sempre foram sustentados pela comunidade. Veja, por exemplo, a determinação bíblica do dízimo para a Tribo de Levi (Deut 18:1-8), a parte das colheitas e animais que cabia aos Templos egípcios, o sustento que as Tribos ofereciam (oferecem) aos seus Payés e Baba'lawôs, dentre outros.

Não quero dizer que se deva fazer, como no caso das Igreja Católica e Evangélica, assim como nos Islamismo e no Judaismo, o sacerdócio umbandista como profissão ou meio de vida, visto que isto não é uma tradição dentro do meio, e sim abrir a discussão para que se cesse esta HIPOCRISIA sobre questões financeiras dentro de nosso Terreiros.

Já no início do ano, vemos os "convergencionistas", sutilmente, explorando este verdadeiro tabu do meio umbandista para se auto-promover, defendendo, inclusive que cursos, worshops (obviamente, com exceção daqueles que os seus oferecem) sejam gratuitos, "inclusivos", blá, blá, blá... pura manipulação mental que, infelizmente, encontra eco até mesmo entre pessoas mais instruídas. 

Concordamos que a Umbanda deve, realmente, ser inclusiva e universal, mas ficar tentando "tampar o sol com a peneira" com esta postura de que dinheiro não é necessário, que cai do céu à semelhança do "manah" que era servido aos hebreus no deserto, é idiotice, farisaismo da pior espécie.