segunda-feira, fevereiro 23, 2009

RIVAS NETO, MAGIA ORACULAR, DIVERSIDADE

Somente hoje consegui tempo para assistir o "Manifesto sobre Magia Oracular e Diversidade" exibido no último dia 09/02/2009 pela Faculdade de Teologia Umbandista.

Devo confessar que fiquei um pouco impressionado (e espantado) em ter concordado com, pelo menos, 40% do que F. Rivas Neto (Pai Rivas) falou, em especial sobre a Umbanda não ser uma espécie de "terra de ninguém", onde qualquer pessoa estranha às suas fileiras (leia-se Norberto Peixoto, Robson Pinheiro e outros) acha que pode simplesmente ditar doutrina e escrever sobre um assunto que não domina.

A questão da missão sacerdotal, que deve fazer parte do karma das pessoas, assim como a rejeição do cursos de "formação de sacerdotes" e mandingas diversas que estão em alta no meio umbandista, são alguns outros pontos, dentre muitos, que concordo com Mestre Arapiaga.

Claro que ele não podia deixar de cutucar, como fez a maior parte do tempo, o seu desafeto de longa data, Rubens Saraceni. A insistência dele em falar sobre as diversas manifestações de Oxossi, assim como as suas qualidades, não somente na Nação Kêto, mas também no Jeje e na Angola, era uma crítica clara ao fato de Saraceni ensinar que "Egunitá" (que seria uma qualidade de Oyá/Yansã) é um outro Orixá.

Por outro lado, não nos passou despercebido que Aramaty, Obashanan e João Carneiro, não poderão mais escrever que seu Mestre vide para a Umbanda e não dela. Isto porque Rivas Neto, em alto e bom som (a fala vai dos 36:33 - 36:41 minutos do vídeo) afirma, in verbis:

"Eu vivo para a Umbanda, com a Umbanda e da Umbanda também, porque não?"

Com esta afirmação, Pai Rivas faz um grande favor àqueles que assinam listas de discussões: não teremos mais de aturar seus discípulos escrevendo que ele não vive da Umbanda e sim para ela.

É claro que não cabe nenhum tipo de explicação filosófica, do tipo "Pai Rivas disse que vivia da Umbanda, não no aspecto financeiro, mas de energia, se alimentando espiritualmente dela", já que Arapiaga deixa muito claro se tratar da questão pecuniária dentro da religião. De toda forma, um dos raros momentos de sinceridade e "fair play" por parte do Arapiaga, nestes anos todos que o venho acompanhando.

Outro ponto interessante a destacar é a forma que Rivas Neto define quem é ou não sacerdote ou, como ele gosta de dizer, "pais e mães espirituais".

Na visão dele, som são sacerdotes aqueles que têm Terreiro aberto, filhos-de-santo, fundamentos e raiz. Afirma também que pode dizer quem são seu pai, seu avô e seu bisavô espiritual.

Pois bem, comecemos pelo final.

Certamente, ele pode dizer quem são seu avô e bisavô espiritual dentro da Nação, porque dentro da sua iniciação na Umbanda Esotérica não é possível passar do "pai". Afirmo isto já que Matta e Silva (Mestre Yapacani) não teve iniciador carnal, sendo que todo mundo sabe que ele foi "feito" por Pai Guiné d'Angola.

Na mesma linha, podemos citar o próprio Zélio de Morais (médium do Caboclo das Sete Encruzilhadas) e Benjamin Gonçalves Figueiredo (fundador da Tenda do Caboclo Mirim), que foram iniciados por seus Guias Espirituais e, portanto, não tiveram "pai" e muito menos "avô" espiritual carnado. Isto sem falar em centenas, milhares de médiuns, que simplesmente começaram sua missão mediúnica através de manifestações espontâneas e que mantêm suas Casas de Culto há décadas.

Em relação a possuir Terreiros aberto, filhos e fundamentos, para ficar em apenas dois exemplos, cito Ivan Horácio Costa (Mestre Itaoman) que é o mais antigo discípulo de Matta e Silva e que não possui Terreiro aberto, não iniciou ninguém e fundamentos é o que ela mais tem. Em termos de Nação, cito Agenor Miranda, o mais respeitado Oluwô da história recente do Candomblé brasileiro, que não tinha Terreiro aberto e não se tem notícias que iniciou ninguém.

Podemos afirmar que tais pessoas não são sacerdotes de "verdade"? Obviamente que não.

Para quem defendeu em todo o tempo que durou tal manifesto a aproximação do saber acadêmico com o religioso, o uso de falácias não é algo que podemos chamar de "saber crítico", como ele insistiu em pontuar.

De toda forma, a declaração de Arapiaga de que também vive da Umbanda é um marco. Quem sabe ele, no futuro, assuma outros comportamentos humanos de sua parte e acabe, de vez, com este culto à sua personalidade.

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Foto: Faculdade de Teologia Umbandista (divulgação)