quarta-feira, julho 09, 2014

A MISTIFICAÇÃO NOSSA DE CADA DIA E O ESTOURO DE UM TERREIRO - PARTE I

Não faz muito tempo e uma leitora conseguiu me encontrar em uma rede social e enviou um email pedindo para estreitarmos o contato. É sempre um grande prazer quando isto acontece pois permite que eu conheça pessoas sérias e bem intencionadas dentro da Umbanda.

Nesta semana ela me procurou para falar sobre um dilema que tem passado, o que a levou a uma crise de fé. Não irei detalhar o caso, já que outras pessoas envolvidas podem estar lendo isto, mas a coisa toda se resume na mistificação perpetrada pelo dirigente do Terreiro e pela covardia dos demais integrantes do mesmo em dar um basta em algumas coisas.

Vamos começar falando do velho mito do médium "100% inconsciente" e da mistificação. 

É de crença geral no meio umbandista que médiuns para serem "firmes", devem estar inconscientes, já que de outra forma interferem no trabalho da entidade. Isto é uma tremenda bobagem.

A mediunidade é um meio de aprendizado para o médium e caso ele esteja "apagado" aprenderá o que com o trabalho? Qual seria o sentido das entidades tratarem o médium como mero veículo que ao deixarem de usar, guardam em uma "garagem" até a próxima vez que necessitem?

O médium que quer convencer de sua inconsciência é, de forma geral, aquele que quer fazer com que tudo que venha através de sua mediunidade seja algo incontestável, tendo em vista que é a palavra de um ser espiritual. Não é muito diferente do pastor que afirma que Deus falou com ele e por isto aquilo que está dizendo deve ser observado e cumprido.

Antes que venham as lamúrias, percebam que eu disse que "de forma geral" aqueles que se dizem inconscientes assim fazem, o que não descarta que existam médiuns legítimos e honestos nestas condições. No entanto, em meus 28 anos de Umbanda, conheci um ou dois médiuns nestas condições que com o tempo evoluíram para uma mediunidade semi-consciente.

Mas - pergunta o arguto leitor - em quê esta questão pode influenciar o dirigente, a assistência e o Terreiro de forma geral?

Ora, por óbvio TODA MANIFESTAÇÃO ESPIRITUAL tem influência do médium e muitas vezes este se aproveita para se comportar de forma, digamos, inusitada, para depois dizer que é da "personalidade" da entidade comunicante.

Então você, leitor, acredita mesmo que um "exu" que grita com os médiuns, que esmurra paredes, que ameça médiuns de agressão física, realmente merecem alguma credibilidade? Que raios de entidade é esta que age igual ou pior do que aqueles aos quais tem a pretensão de ajudar?

Ao meu sentir, uma cena como a narrada acima não é caso de interferência do médium e sim de mistificação pura e simples. E quanto mais arrogantes, quanto mais acreditar que é um "avatar", um "semi-deus", mais atitudes como esta o suposto médium apresentará. 

Aliás, o tema vem ao encontro de outra pergunta que recebi por email, que acredito ser pertinente tratarmos aqui: como discernir se o médium está ou não mistificando, sem o dom da vidência?

Vamos esclarecer que a vidência é um dos tipos de mediunidade mais raros que podemos encontrar, no que pese a quantidade de pessoas que se dizem videntes e que não se constrangem ao dizer que vêem e conversam com entidades como se fossem pessoas encarnadas. 


Já ouvi médium dizendo que fica em receoso em sentar-se em coletivos e até mesmo em aviões pois sua vidência é tão apurada que já não consegue diferenciar entre encarnados e desencarnados. Aliás, já li coisa semelhante atribuída a Chico Xavier, o que me leva a crer que a vaidade só faz com que estas pessoas repitam este quadro que, sinceramente, duvido até mesmo que tenha acontecido com o famoso psicografo.  

Portanto, sendo rara tal faculdade, basta usar de bom senso e observação para descobrir se está diante de uma entidade legítima ou de um mistificador. 

Vamos partir do princípio que Entidades de Fato e de Direito são esclarecidas, moralmente superiores à nós, com uma visão macro de ambos os mundos. Se assim são, não podem tomar posturas ou ter rompantes que não condizem com esta condição superior. 

Portanto, desconfie do médium cuja "entidade" usa ostensivamente de palavreado chulo, que tem predileção em atender pessoas do sexo oposto, que sempre está envolvido em casos amoroso com membros da assistência e da corrente mediúnica, que sempre está demonstrando seus "poderes" com truques de circo, que diz ter passados encarnações como grandes figuras históricas, poderosos magos ou coisa que valha. Lembram de um certo "mestre" que afirma que há milênios é um "condutor" da humanidade? 

O melhor filtro, portanto, é saber reconhecer naquela entidade valores e atitudes elevadas, pois caso contrário a chance de estar diante de uma mistificação "brava" ou de um belo kiumba é enorme.

Vou dividir este assunto em 3 ou 4 postagens para que não fique um texto longo e maçante. Na próxima tratarei exatamente sobre a questão da sexualidade e da moralidade dentro dos Terreiros.

Manáh, Àsé e Bençãos.

Ricardo Machado
Ubajara