segunda-feira, dezembro 22, 2008

O PRECONCEITO COMEÇA EM CASA

Neste último final-de-semana, estava reparando em alguns jovens evangélicos no shopping, vestidos com camisetas que expressavam sua fé e orgulho por esta condição.

No estacionamento, não foi difícil ver uma dezena de carros com adesivos contendo versículos bíblicos, nomes de igrejas e outros sinais que nos davam conta de que seus proprietários seguiam algum grupo religioso de origem protestante.

Comecei, então, a procurar adesivos semelhantes que remetessem à fé umbandista, candombelcista ou até mesmo espírita. Não os achei.

Consegui visualizar alguns de temática maçonica, rosacruciana, católica e até mesmo teosófica (aliás, de uma Loja da qual faço parte), mas algo do tipo "Sou feliz por ser Umbandista" ou um simples "Umbanda - 100 anos", foi impossível de encontrar.

Obviamente, não quero dizer que sair por ai declarando sua fé através de camisetas e adesivos automotivos seja uma necessidade ou mesmo demonstração de comprometimento com a religião, longe disto. Mas é interessante especularmos os motivos que levam a, praticamente, total ausência deste tipo de manifestação em relação as religiões de matriz africana.

Ao que parece, o umbandista tem um certo receio de se declarar como tal.

Certamente por conta do preconceito que ainda campeia neste nosso país, com receio de ser taxado como "macumbeiro" ou "feiticeiro", as pessoas preferem manter sua fé nor Orixás, Guias e Protetores como algo muito particular e secreto.

Já tive várias oportunidades de questionar enormes assistências dentro de Terreiros de Umbanda sobre quantos dos presentes se consideravam realmente umbandistas. Houve lugares em que nem mesmo a totalidade dos médiuns ergueram suas mãos e, pasmem, teve um dito "babalorixá" que se declarou, com todas as letras, católico.

Ao que parece, a Umbanda para estas pessoas, e ouso dizer, para a maioria esmagadora daqueles que frequentam nossos Terreiros não passa de um último recurso na tentativa de solucionar seus "causos" e mazelas que promessas à santos católicos, novenas e penitências de confessionário não resolveram.

Para a maioria dos adeptos e simpatizantes da religião, a Umbanda é apenas um complemento da fé católica, já que na hora do casamento, do batismo dos filhos, das festas de bodas, dos funerais, via de regra, recorrem à Igreja Católica e não ao Terreiro que por anos frequentaram.

Existe, além do aspecto religioso, toda uma questão social neste tipo de comportamento.

As Igrejas tradicionais são bem aceitas por todos os setores da sociedade, sendo que os Terreiros são tidos como antros de magia negra e comunicação com o demônio. Eu mesmo, quando fiquei noivo, senti na pele esta situação já que meus familiares, todos evangélico, não compareceram à cerimônia de noivado que foi feita no Terreiro que eu frequentava à época.

Questionados qual seria o motivo para não irem a uma cerimônia feita em um Terreiro de Umbanda, mas comparecer normalmente a celebrações na Igreja Católica (por eles considerada apóstata), a resposta que ouvi foi de que apesar da apostasia a Igreja de Roma não praticava comunicação com espíritos satânicos como no caso da Umbanda.

Faz alguns anos, celebrei um casamento onde a quase totalidade dos mais de 200 convidados só apareceram para a recepção, eximindo-se de participar da cerimônia religiosa dentro do Terreiro. Ocorrências semelhantes me foram relatadas por outros Sacerdotes umbandistas.

Não faz muito tempo, uma Sacerdotisa umbandista, que mantinha Casa aberta por mais de 30 anos, faleceu e em seu velório um padre católico conduziu a cerimônia religiosa.

Já é tempo da Umbanda tomar seu lugar como RELIGIÃO e não mero apêndice da Igreja Romana. Mas para isto, é necessário que aqueles que se dizem umbandistas assumam esta condição publicamente e passem a prestigiar nossas Tradições e ritos.