Não há como negar a enorme influência que a Igreja Católica Romana tem sobre a Umbanda, seja através de seu calendário litúrgico, com o uso de imagens do ditos "Santos" sincretizados com nossos Orixás e até mesmo, como acontece com a maioria dos que se dizem "umbandistas", como religião "oficial" já que mantêm vínculo estreito com o catolicismo batizando seus filhos, casando-se, celebrando-se missas aos seus mortos e até mesmo, pasmem, confirmando "iniciações" e "feituras" por lá.
Aproveitando a época, quero falar especificamente sobre a Quaresma dentro da questão umbandista.
Vamos definir, primeiramente, o que vem a ser a Quaresma.
De acordo com o site da Ordem Religiosa "Companhia de Jesus" (http://www.jesuitas.org.br/liturgia/quaresma.htm), este é o tempo litúrgico de conversão, que a Igreja marca para nos preparar para a grande festa da Páscoa. É tempo para nos arrepender de nossos pecados e de mudar algo de nós para sermos melhores e poder viver mais próximos de Cristo. (...)
Continua o texto: A prática da Quaresma data desde o século IV, quando se dá a tendência a constituí-la em tempo de penitência e de renovação para toda a Igreja, com a prática do jejum e da abstinência. (negritos meus)
Conforme podemos ver, a quarema trata-se de uma tradicional liturgia CATÓLICA, que serve como preparo para a Páscoa. Ambas as celebrações, no meu modesto entender, nada têm com a Umbanda.
Começa que a Umbanda não é uma religião que, entre seus conceitos e postulados, prega a existência de "pecado" conforme a concepção judaico-cristã. Sendo um período determinado e instituido pela própria Igreja Romana, em nada afeta a harmonia cósmica ou impõe ao mundo espiritual algum tipo de obrigação de observar tal período. Trata-se, portanto, de mero arranjo humano, específico da religião católica, que nenhum condão tem de interferir nas atividades de um Templo de Umbanda.
Infelizmente, na prática, não é isto que acontece. Neste período, muitas casas umbandistas adaptam suas atividades e, pasmem, tenho notícias de alguns que promovem vigílias e a pratica de se rezar o "terço" católico em suas dependências.
Em um Terreiro que trabalhei por alguns anos, no período da quaresma não se trabalhava com Exus. A explicação que se dava é que se trata de um período de trevas, onde o "mal" está à solta e que os Guardiões, exarcebados de serviço, não podiam ser deslocados para o trabalho dentro do Templo, já que estaria todo o tempo empenhados nos combate as hordas satânicas.
É uma visão lírica da questão, mas como tal, profundamente fantasiosa.
Os Guardiões combatem as hostes trevosas em tempo integral, seja quaresma, páscoa, natal, ano novo, dia das crianças, finados ou seja lá o que for. Enfim, como já disse, nenhuma convenção humana tem o poder de mudar o equilíbrio do mundo espiritual.
Portanto, que as pessoas queiram manter um dupla filiação religiosa, vá lá. Mas tratar comemorações católicas como algo inerente à Umbanda, inclusive alterando-se a forma de trabalho dentro dos Terreiros, já passa a ser algo equivocado.