quarta-feira, julho 23, 2008

ROBSON PINHEIRO: ESPÍRITA OU UMBANDISTA?

Uma das perguntas mais frequentes que recebo é sobre o escritor espírita Robson Pinheiro. Houve uma interlocutora que chegou a dizer que ele é um "escritor espírita que escreve para umbandistas".

Particularmente, discordo desta visão.

Robson Pinheiro é um escritor espírita que longe de escrever para umbandistas, quer colocar a Umbanda como uma espécie de "sub-produto" do Espiritismo. Suas obras, em especial "Tambores de Angola", "Aruanda" e a série "Legião" dão um enfoque bem kardequiano às práticas umbandistas, colocando nosso Mentores como uma espécie de "linha auxiliar" dos trabalhos kardecistas.

Acredito que não seja necessário dizer que a doutrina umbandista diverge em muitos pontos da kardecista e que a codificação de Allan Kardec não se aplica, em sua quase totalidade, às nossas práticas.

As obras de Robson Pinheiro são romances doutrinários ESPÍRITAS, não umbandistas. Acredito que esteja fazendo sucesso em nosso meio devido a carência doutrinária tão comum em nossos Terreiros. Temos de levar em conta, igualmente, que a maioria dos Chefes de Terreiros não têm interesse de que seus "Filhos" adquiram cultura religiosa, já que estudo e conhecimento libertam a mente de fetichismos, crendices e lendas, tão comuns na seara umbandista.

A maioria dos autores umbandistas, salvo raras e honrosas exceções, colocam no mercado livretos de pontos, mandigas, trabalhos e tudo mais. Raramente nos deparamos com livros doutrinários (ou que tem a pretensão de ser) sérios, com um mínimo de lógica que os alicercem.

O único escritor umbandista que se mantem em atividade atualmente é Rubens Saraceni. No que pese minha discordância em 98% do que o mesmo escreve, é o único que ainda lança alguma coisa inédita, dando sequência a doutrina que prega e diz ser revelada pelo Astral Superior através de Pai Benedito de Angola.

Por outro lado, Francisco Rivas Neto (Mestre Arapiaga) parou de escrever faz alguns anos, salvo engano, depois do lançamento de "Fundamentos Herméticos de Umbanda". Suas obras, com exceção da "Proto Síntese Cósmica" que ainda pode ser encontrada, desapareceram do mercado, não sendo, há muito, reeditadas.

A obras de Matta e Silva, igualmente de propriedade de Rivas Neto, são mais fáceis de encontrar mas também estão se esgotando e, com certeza, não seráo reeditadas. Aliás, Arapiaga ainda não se tocou que exatamente por ter parado de escrever e não reeditar suas obras é que a doutrina propagada por Saraceni e a sua "Umbanda Sagrada" tem encontrado cada vez mais adeptos.

Então, o que sobra em termos doutrinários? Nada ou pouquíssima coisa.

Diante desta orfandade doutrinária, os umbandista se voltam aos romances de Zibia Gasparetto, às obras de Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco e, claro, Robson Pinheiro, dentre outros luminares do Espiritismo, contaminando ainda mais a Umbanda com estes conceitos estranhos à Ela.

No entanto Robson Pinheiro, apesar de tentativa de "kardequizar" a Umbanda, tem o mérito de inserir no meio espírita uma visão menos preconceituosa sobre a nossa Religião. Porém, não vamos confundir seus escritos com doutrina, já que até mesmo para os parâmetros kardecistas as obras deste escritor mineiro não são, nem um pouco, ortodoxas.