Faz algum tempo, adquiri o livro "Vozes de Aruanda", obra escrita pelo espírito Ramatis, com participação da Entidade Babajiananda, através da psicografia de Norberto Peixoto. Trata-se da última obra de um trilogia precedida por Evolução no Planeta Azul e Jardim dos Orixás, do mesmo autor, tendo como temática Umbanda e Apometria.
Confesso que até ler tal obra jamais havia ouvido falar em apometria. Como pode ser também o caso do leitor, transcrevo a definição dada por Ramatis:
“Apometria é uma técnica que permite com razoável facilidade, a um grupo de médiuns treinados, a indução para estados de desdobramento dos corpos mediadores; em especial o etérico, o astral e o mental. É também importante ferramenta de criação de campos de força. Não basta somente o conhecimento da técnica em si, mas é fundamental a egrégora que se forma durante os trabalhos, pois, é proveniente de cada elo da corrente, a sustentação mental para que“o lado de cá” possa agir em padrões vibracionais, que normalmente exigiriam grande dispêndio de energia e esforço das falanges socorristas, que dão apoio a esses trabalhos de cura desobsessivos”.
Pelo que entendi através da leitura do livro e pesquisas, a apometria é uma técnica "Xtreme" de desobsessão, onde os médiuns envolvidos desdobram seus corpos astrais, de forma consciente e controlada, criam campos de forças contentores de entidades trevosas e podem mesmo conhecer as encarnações passadas dos consulentes, o que facilitaria o diagnóstico dos seus problemas e, consequentemente, a cura para aquelas mazelas.
Como nunca presenciei esta técnica sendo aplicada, tendo conhecimento de seus resultados somente pelo livro e outras fontes de pesquisa, não emitirei julgamento sobre sua eficácia. Infelizmente, ao que parece, os trabalhos apométricos estão ainda restritos ao sul do país e ao Rio de Janeiro.
Porém, o que deixa transparecer na obra de Ramatis, a apometria é uma prática diretamente ligada à Umbanda, estranha ao Movimento Espírita (lembremos que Espiritismo não é Umbandismo e vice-versa...) e quando praticada nas Casas kardecistas, obviamente, não há o uso de elementos materiais como pontos riscados e estouro de pólvora, assim como menção ao trabalho de Caboclos, Preto-Velhos e Exus.
Através de minhas pesquisas descobri, todavia, que a apometria, longe de ser algo da Umbanda (na minha opinião nada tem com a mesma...) é oriunda mesmo do Kardecismo. A técnica foi descrita através de seus métodos e mecanismos pelo Sr. Peynanne, na Sociedade Espírita de Bordeaux, sob aquiescência de Allan Kardec, em 1867. No Brasil, chegou pela iniciativa do médico espirita Dr. José Lacerda de Azevedo.
Portanto, a apometria (apo = além de ou fora de / metria = relativo a medida) é mais um modismo, uma contaminação oriunda do Kardecismo e, para variar, abarcada com uma facilidade imensa dentro do meio umbandista.
Com todo respeito que tenho por Ramatis, sendo inclusive assíduo leitor e pesquisador de suas obras, "Vozes de Aruanda" apresenta a apometria como algo profundamente ligado à Umbanda e as Entidades que Nela militam, além de umas informações sobre uma "determinada Ordem Iniciática" que causaram estranheza.
Nas páginas 27/28, da 2ª edição, lemos o seguinte, in verbis:
Observações do médium:
A experiência que descreverems ocorreu em desdobramento astral na noite de 13 ed abril de 2004. Fomos conduzidos por Babajiananda a um templo do Astral que é a contraparte de uma ordem iniciática do movimento de umbanda existente na Terra, de que não estamos autorizados a dizer o nome. Seu dirigente é um dos raros iniciados encarnados que teve as sete iniciações na umbanda esotérica, e faz um articulado trabalho de estudo e divulgação umbandista, pregando a unidade e a convergência, abarcando as ciências, religiões e filosofias existentes.
Existem outras informações nas páginas seguintes sobre uma inicação do médium e um seu acompanhante no Astral, que é melhor não comentar.
Para quem não conhece, Babajiananda (não confundir com Babajinan, discípulo de Arapiaga) é o mentor espiritual do falecido escritor Roger Feraudy, autor, dentre outras, de "Umbanda Esta Desconhecida", "Aumpram - O Renascer da Umbanda", "Serões de Pai Velho", todas obras que recomendo. Por outro lado, Roger Feraudy era amigo pessoal de F. Rivas Neto (Arapiaga).
Portanto, não é dificil deduzir de qual "ordem iniciática" e sobre a quem Norberto Peixoto se refere ao falar sobre o "raro iniciado" que a dirige. Ainda bem que Feraudy não está encarnado para ver no que se transformou a tal "ordem iniciática", com seus rituais de Catimbó e tudo mais.
Enfim, com todo respeito que Ramatis e Babajiananda sempre tiveram de minha parte, apometria, em minha opinião, pode até ser uma técnica de auxílio espiritual válida mas é outra prática alienígena oriunda dos salões franceses, que nada tem com os fundamentos da Umbanda.