quarta-feira, junho 25, 2008

POLÍTICA UMBANDISTA

Nesta era de democratização da informação, onde a cultura e o saber, de forma geral, estão acessíveis à todos, onde as distâncias diminuiram e todo (ou quase todo) conhecimento humano está ao alcance de um click do nosso mouse, vivemos um momento muito peculiar no Movimento Umbandista.

Sendo a internet um veículo de comunicação relativamente barato e completamente à disposição de, praticamente, qualquer pessoa deste mundo, vemos a multiplicação de idéias, conceitos, doutrinas, religiões conhecidas (e desconhecidas) pululando por ai. O proselitismo, mesmo que disfarçado de "universalismo", corre solto, sendo que além dos interesses financeiros, temos agora grandes batalhas pelo poder temporal e político. Não estranhe: realmente uma coisa é diferente da outra.

Explico:

O assim chamado poder temporal é o exercício, efetivo, de um cargo político. Alguns "sacerdotes" que se dizem umbandistas querem ser deputados federais, estaduais e vereadores, ou seja, querem EFETIVAMENTE exercer o cargo público, posarem como autoridades e se beneficiarem de tudo que advir da posição.

Usando o Sagrado Nome da Umbanda, buscam apoio junto à Comunidade Umbandista e Candomblecista para a sua candidatura e eleição, arvorando-se de "defensores dos interesses" de tal coletividade, mas na verdade querem somente, e tão somente, usar todos como escadas para chegar ao poder, para quando ali estiverem nada fazer de concreto, significativo pela Religião que os ajudou a se elegerem.

Do outro lado temos aqueles que, apesar de não serem candidatos a cargo algum, estão por detrás dos que se candidataram. Estes desejam apenas o poder político, sem que apareçam ou coloquem suas reputações em jogo no caso (na verdade na grande probabilidade) de uma legislatura medíocre por parte daqueles que almejam as Câmara Federal , as Assembléias Legislativas e as Câmaras de Vereadores.

Estes, que se escondem na penumbra de todo o processo político eleitoral, são aqueles que hoje apoiam movimentos políticos dentro da comunidade religiosa Afro-brasileira, indicam candidatos, fazem campanha, para depois, nos bastidores, armarem seus conchavos e levar para a esfera política suas disputas e intrigas, dando continuidade a toda esta BAIXARIA que vemos dia-a-dia nas listas de discussão, nas comunidade virtuais e em sites diversos que têm o único objetivo de fomentar esta verdadeira "guerra civil" que vemos no assim chamado Movimento Umbandista.

O que me deixa mais intrigado é que os dois maiores líderes, pelo menos em termos de seguidores e simpatizantes (o que não quer dizer que sejam líderes na acepção da palavra...), Rubens Saraceni e Rivas Neto, não são candidatos à absolutamente nada, mesmo sabendo que uma possível candidatura, creio eu, até mesmo para Deputado Estadual (quiça Federal...) seria bem sucedida.

Não é de se estranhar?

A Umbanda, no Estado de São Paulo, pode ser dividida, pelo menos em questão de influênca, entre Rivas Neto e sua "Escola da Síntese" e Rubens Saraceni com sua "Umbanda Sagrada". Ambos têm seguidores espalhados por todo o Estado, inclusive entre lideranças qu não coadunam com as suas doutrinas, mas foram arrebanhadas por algum outro interesse, seja o CONUB, CONSUB, FTU, "Guerreiros do Axé", "Movimento Chega" e sabe-se lá o que mais estes dois ainda vão inventar.

A influência doutrinária de Rivas Neto em São Paulo é menor, com certeza, do que a de Rubens Saraceni, já que este, com seus livros que não falam nada com coisa nenhuma, que facilita a qualquer um ser "mago" da noite para o dia com seus cursos, até mesmo por sua própria origem humilde, tem um apelo, digamos, mais popular. Afinal de contas, Saraceni é o ex-açougueiro que virou escritor, médium, "mago", maçom, enfim, conseguiu um status e uma projeção no meio que, na verdade, todos estes que o seguem querem o mesmo, visto Alexandre Cumino que de uma hora para outra também virou escritor, pai-de-santo, editor de revista e tudo mais.

No caso de Rivas Neto, de origem também humilde (o pai era dono de ferro-velho, pelo que consta), esconde isto. Desde sempre procurou passar uma visão intelectualizada, moderna, erudita de si mesmo. Sempre fez questão de trombetear sua condição de médico cardiologista, sua suposta encarnação como um "Yamunishidda" (uma espécie de santo, de avatar, no esoterismo hindu), cercando-se de discípulos que, pelo menos os mais próximos, igualmente ostentam títulos universitários, vindo, em quase sua totalidade, das classe mais abastadas.

Como já disse em outro artigo, Rivas Neto apostou, por um bom tempo, todas as suas "fichas" na doutrina deixada por Matta e Silva, mas como a mesma soou um tanto quanto complicada para as massas e, sendo muito sincero, antipática para a maioria dos umbandistas acostumados a um africanismo e um fetichismo "pesado" na Umbanda, resolveu negar os ensinamentos de Mestre Yapacani, assim como as próprias coisas que escreveu, e tornar-se um cara mais smpático e comedido em sua críticas a bagunça que dizem por ai ser Umbanda, o que o aproximou dos africanistas, incluso o pessoal do Candomblé.

Com a criação da Faculdade de Teologia Umbandista, Rivas Neto, se não passou à frente, empatou o placar com Rubens Saraceni. Não reeditar sua obras, em especial "Lições básicas de Umbanda", onde tece vários comentários desabonadores contra alguns rituais e outras práticas dentro da Nação e da Umbanda, além de declarar sua origem no Omolokô e transformar a OICD praticamente em um Terreiro desta linha (com imagens, atabaques, cocares, guias de miçangas, etc...) foi um "golpe de mestre" do Arapiaga, já que aqueles que não leram não o farão mais visto a raridade de oferta das suas obras, com exceção da "Proto-sintese Cósmica".

Se hoje Rivas Neto, diferente de Saraceni, não tem aquela proximidade com o "povão", pelo menos foi "aceito" e visto com olhos melhores pelas lideranças religiosas afro-brasileira de São Paulo, em especial pelo SOUESP. Uma figura fácil nas festas, colóquios e demais atividades da OICD, FTU e CONSUB é Pai Jamil Rachid, ex-presidente daquele orgão.

Os candidatos apoiados por estes dois, assim como os presidentes e diretores das instituições e movimentos que idealizaram, são apenas os "pontas-de-lança", o aspecto visível da influência deles no meio umbandista. Como ambos têm afetos e desafetos na Comunidade, melhor colocar na frente candidatos que se declarem "filhos de Umbanda" e que tenham menos resistência da massa, alguns, como os advogados Antônio Basílio Filho e Hédio da Silva Junior, muito bem vistos e aceitos tanto no meio da Umbanda como do Candomblé. Estes dois, aliás, se tivessem sido mais humildes e começado a carreira política como vereadores, teriam sido eleitos com certeza.

Enfim, Saraceni e Rivas Neto não são candidatos simplesmente para não "queimarem" seus nomes em um sufrágio. A chance de sairem vitoriosos é apenas ligeiramente acima da possibilidade de amargarem uma vergonhosa derrota e, neste caso, perderiam prestígio e voz dentro de suas áreas de influência o que, para este dois que têm os egos maiores que a própria cidade de São Paulo, seria desastroso e economicamente inviável.

Quanto ao eterno candidato "umbandista", Pai Guimarães de Ogum, não tenho como tecer nenhum comentário. Não conheço o indivíduo, exceto por suas ruidosas e polêmicas participações em todas as listas de discussão sobre Umbanda, Candomblé e cultos de origem afro em geral. O que se fala nos bastidores e até mesmo nas citadas listas é que Pai Guimarães abraçou a Umbanda no ano 2000, que ninguém sabe de onde veio, de quem é filho, qual a sua ascendência iniciática para se denominar "pai-de-santo". Outras denúncias contra o mesmo, sérias e de caráter criminal, não puderam ser por mim comprovadas e, por este motivo, tenho-as, até prova em contrário, como mais um episódio das maledicências, calúnias e difamações tão comuns, infelizmente, no meio umbandista.

De toda forma, devemos todos ficarmos atentos a esta mobilização política no meio umbandista. Assim como o evangélico não deve votar em um pastor, o católico em um padre, os umbandistas e candomblecistas não devem votar em "pais e mãe-de-santo" simplesmente por pertencerem à mesma religião. Devemos analisar a conduta, experiência, vida pública, sacerdotal destes indíviduos, para depois decidirmos por votar neles. Aliás, analisar a vida pregressa de qualquer candidato, seja ele religioso ou não, é um dos pontos a ser observados para votarmos de forma consciente.

Encerrando, não acredite em promessas de campanha, discursos inflamados, textos sentimentais e bem escritos em sites ou listas de discussão. No Brasil, político é tudo igual: só muda o partido, o número do candidato e a religião.