terça-feira, maio 20, 2008

TORQUEMADA BRASILEIRO?!?


(artigo publicado no site CMI Brasil, sobre a proibição, à época, do livro ""Orixás, Caboclos e Guias: Deuses ou Demônios" do "bispo" Edir Macedo, em 11/11/2005)

Este tipo de situação [a proibição do livro] é a prova do que eu venho dizendo há algum tempo: o Brasil é o país das proibições. Diante da inércia das Autoridades constituídas no tocante a garantir educação, saúde, segurança e outros aspectos para melhorar as condições de vida dos habitantes, partem para a proibição (ou a tentativa de...) pura e simples.

Assim foi, quardando-se as devidas proporções, com as armas de fogo (que, graças à Deus, não vingou), com a Lei que determina que todos devam ser atendidos em 15 minutos nos Bancos, o filme "Je Vous Salue, Marie" de Godar (lembra que havia um comunicado da Polícia Federal dizendo que as pessoa que o assistissem estavam passivas de prisão?), isto para mencionar apenas os atos de govenos pós "revolução" de 1964.

Agora, o MPF que tirar de circulação o livro do Macedo. Já imagino como os adeptos das religiões afro-brasileiras devem estar exultantes, aplaudindo tal iniciativa, sem pensar nas consequência que um ato deste pode gerar, no futuro, para a própria religião. Sejamos francos: por mais que a idéia me agrade, a atitude do Ministério Público tem uma designação que é CENSURA. Vivemos em um País, em tese, democrático. Todos têm o direito de ir e vir, assim como expressar suas opiniões, respondendo "ex legis" pelo abuso destes direitos. Por mais imbecil que seja a visão dos evangélicos e afins sobre as religiões de cunho afro, eles devem ter o direito de expor tais idiotices, desde que não seja um ataque gratuito, grotesto ou difamatório contra a fé alheia.

Dizer que a Umbanda, Candomblé, Kardecismo e qualquer outra religião de cunho espiritualista-mediúnica é coisa do "demônio" e outras besteiras mais, corresponde á FÉ destes grupos religiosos, já que existe várias menções disto na Bíblia. Se o texto foi ou não deturpado, não é o caso. Fato é que o livro, que é a base da fé destes grupos, diz exatamente isto. Não sei se algum dos amigos e Irmãos tiveram a oportunidade de ler esta dispensável obra do Edir Macedo intitulada "Orixás, Caboclos e Guias: Deuses ou Demônios".

Eu perdi o meu tempo lendo.

Para ser muito sincero, a obra não diz nada mais ou à menos do que sempre lemos em algumas comunidades de Umbanda daqui. É a história de "Pomba-Giras" prostitutas, "Exus" malandros e bebedores de sangue, falando impropérios, trabalhando para a ruina das pessoas (afinal, "Exu" trabalha para o bem e o mal, de acordo com alguns idiotas. Vide a prece à "Exu" muito difundida por ai), "Orixás" são seres vingativos, imperfeitos, mais humanos que os "humanos", que matam seus filhos, arruinam suas vidas, ameçam e coagem para conseguirem favores dos adeptos (ou escravos?) da Umbanda e do Candomblé, Exus e Pombas-Giras que vivem no inferno. Isto é familiar para vcs? Pois é... basta uma olhada em alguns tópicos em comunidades no Orkut e verão que o Edir Macedo só escreveu em seu livreto o que é, infelizmente, ensinado e propagado por ai como "Umbanda", "Exus", Orixás", etc.

A culpa é de quem? Do Edir Macedo ou dos adeptos da Umbanda e do Candomblé que insistem em demonizar as religiões? Os Umbandistas e Candomblecistas (se é que podem ser chamados assim...) criam um monte de mitos, de lendas, de "historinhas".. .querem Exus com pontos firmados no inferno e quando vem alguém e expõe isto como a realidade dos cultos, ficam bravinhos? Chamam os evangélicos de intolerantes e vilipendiadores?

Ora, sejamos sensatos.

A religião tem a cara que seus adeptos dão à ela. A "Umbanda somos nós", plagiando um slogan" antigo da Caixa Econômica Federal. Queremos respeito? Ótimo, então vamos nos dar ao respeito, mas a censura não é a solução. Vamos largar de mão esta postura de "minoria indefesa" e busquemos o respeito que a nossa religião merece dentro de nosso próprio meio para depois exigirmos respeito e reconhecimentos externos. Hoje proibi-se os livros do Macedo, amanhã, quem sabe, o Ministério Público vai querer proibir um livro de Umbanda, ou o uso de atabaques,o sacrifício ritual ou qualquer outra manifestação ritualística ou religiosa.

Estamos em um Estado laico e, com certeza, religião não é da alçada do Governo ou do MP.

Se o livro do Macedo está contra as regras, então que seja assinado um termo de ajustamento de conduta com ele e a Editora, o texto revisto e enquadrado dentro dos parâmetros tolerados pela legislação. Em minha modesta opinião, CENSURA ideológica é tão ruim quanto perdemos o direito de portarmos armas. Um retira o meu direito de defender-me, outro tira o de pensar.

Para finalizar, agradecendo a quem teve paciência de ler toda esta minha extensa manifestação e desculpando-me com aqueles que não tiveram, cito Thomas Paine:

"Quem quiser garantir a própria liberdade deve preservar até o seu inimigo da opressão, pois se ele infringir esse dever, estabelece um precedente que atingirá a ele próprio".

Ricardo Machado
Mestre de Iniciação de Umbanda Esotérica
Fraternidade de Umbanda Esotérica Vozes de Aruanda
Belo Horizonte/Minas Gerais