"Canticum graduum David ecce quambonum et quam iucundum
habitare fratres in unum
Scut unguentum in capite quod descendit in
barbam barbam Aaronquod descendit in ora vestimenti eius
Sicut ros Hermon qui
descendit inmontes Sion quoniam illic mandavitDominus benedictionem et
vitamusque in saeculum"(Salmo 133:1-3*)
Já há alguns anos temos notado que o Movimento Umbandista vem passando por fases interessantes, muitas delas, lamentavelmente, extremamente destrutivas para o meio.
Há pouco mais de dois anos atrás, surgiu o termo "Escola", para designar as várias tendências doutrinárias e ritualísticas inerentes à Umbanda. Foi um "Deus nos acuda": criaram-se facções e, pelo menos nos meios virtuais, criou-se uma acirrada disputa entre as tais "Escolas" para determinar quem estava mais certo do que o outro.
O resultado?
A maioria dos que estão lendo estas linhas conhece: listas de discussões foram fechadas, processos judiciais movidos, ameaças, grupos estraçalhados... um verdadeiro caos tomou conta do já muito confuso e desunido Movimento Umbandista. A velha máxima romana de "dividir para conquistar" nunca foi (e talvez nunca mais será) tão atual como agora...
Agora o meio umbandista está envolto em outra disputa: a supremacia e "legalidade" das Federações. As armas usadas neste "combate", porém, não são novas: acusações sem provas, calúnias, difamações, "dossiês" e todo aquele arsenal típico dos que se aprazem mais em discutir pessoas ao invés de idéias.
Estamos muito próximos em comemorar o centenário do Advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas e a Religião por ele revelada dá sinais claros de cansaço sendo que, talvez, não resista por mais 100 anos. A busca pelo poder temporal, pela imposição de "verdades" e as verdadeiras guerras fatricídas que há muito vêem sendo travadas em nosso meio demonstram que o Reino da Umbanda está por demais dividido e, como disse o Supremo Mestre Jesus:
"Todo reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá" (Mateus 12:25)
A busca pela unidade doutrinária é uma utopia. Ninguém conseguirá fazer com que todos os Umbandistas "rezem pela mesma cartilha". Nenhuma Tradição iniciática ou religiosa conseguiu, até hoje, criar um padrão para seus rituais e práticas litúrgicas. Dentro de Ordens tradicionais como a Maçonaria, o Rosacrucianismo, o Martinismo, dentre outras, vemos uma base ideológica acompanhada de uma multiplicidade litúrgica. Com uma religião tão nova como a Umbanda não seria diferente.
A pluralidade de ritos nada mais é do que a manifestação externa da pluralidade de consciências. Seria mais útil deixarmos a pretensa e utópica "Codificação da Lei de Umbanda" de lado, esquecermos nossas diferenças e nos atermos àquilo que nos uneA situação é por demais séria e nossa Religião, efetivamente, corre o perigo de ser apenas lembrança em um futuro não muito distante. Enquanto os interesses pessoais, a busca de poder, títulos e influência temporal for o objetivo perseguido por aqueles que se posicionam como "líderes" do Movimento Umbandista, continuaremos como o viajante incauto: perderemos o trem... o trem da história. Pior... seremos apenas história...
"Spes Mea in Deo Est"
* Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, a barba de Arão, que desceu sobre a gola das suas vestes; como o orvalho de Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordenou a bênção, a vida para sempre.
(artigo publicado pela primeira vez no "Boletim Saravá Umbanda" , Ano 06 - Número 16 - 01 de Janeiro de 2004)