quinta-feira, setembro 19, 2013

LUTANDO PELO BOM, PELO JUSTO E PELO MELHOR DO MUNDO

Na data de ontem, 18/09/2013, escrevi uma nota em meu mural de uma rede social onde critiquei veementemente a postura do deputado federal e pastor Marco Feliciano em ter dado voz de prisão à duas jovens lésbicas que se beijaram durante um culto em LOCAL PÚBLICO. Fui procurado pelo responsável pela página "Cartazes e Tirinhas LGBT", que pediu autorização para replicar meu texto naquele espaço, o que autorizei sem maiores problemas.

Como era de esperar, muitos dos meus contatos aqui no Facebook vieram me perguntar se sou homossexual, visto  que não é a primeira (e nem será a última) vez que publico algum texto defendendo os direitos dos casais homoafetivos.

Não sou homossexual.

Assim como não sou usuário de drogas, mas defendo a legalização das mesmas.

Assim como não sou negro, mas defendo o fim do racismo e do preconceito por conta de etnia.

Assim como não sou muçulmano, mas defendo que nem todo muçulmano é terrorista.

Assim como não sou indígena, mas defendo que estes povos tenham suas terras e suas tradições respeitadas e preservadas. 

Assim como não tenho um filho ou parente excepcional, mas sou contra o fechamento das APAE's.

Eu não preciso estar inserido dentro de uma determinada situação para defender o que é justo, o que é certo.

As pessoas estão sempre muito preocupadas com o seu próprio umbigo, em advogar em causa própria, e esquecem que podemos ser, simplesmente, solidários e cerrarmos fileiras contra aquilo que consideramos injusto.

Lamento, novamente, que tanta gente instruída, com valores morais sólidos, educadores e formadores de opinião, aplaudam e tentem justificar esta verdadeira "guerra santa" que alguns políticos e religiosos declararam contra a comunidade homossexual brasileira.

Entristece-me ver como o preconceito está ali, travestido, em palavras como "sociedade tradicional", "tecido social", "respeito à família", dentre tantos outros eufemismos que se traduzem em simples e completa intolerância e aversão ao diferente.

Os argumentos usados, em especial os que evocam conceitos religiosos, purista ("isto não é natural") e a tal "moral social" para justificar a proibição da união de pessoas de etnias diferentes. Não era "natural", a sociedade não "aceitava" e Deus era "contra" um branco casar-se com uma negra.

Na verdade, velhos argumentos para um novo preconceito.

O que vai romper o tecido social neste país não é a equidade de direitos aos casais homossexuais, nem a demonstração pública de afeto ou mesmo a adoção de criança por parte deles. O que romperá a ordem social neste país é a corrupção, os privilégios à políticos, a falta de solidariedade, a insistência do brasileiro em olhar para o seu próprio umbigo, a intolerância religiosa, a injusta distribuição das riquezas, a falta de educação e saúde de qualidade.

Hoje um setor radical e fundamentalista evangélico, escudado por sua bancada no Congresso Nacional, persegue homossexuais justificando isto como "defesa da família", "tradição social", "ordem de Deus".

Amanhã passarão a perseguir religiões afrobrasileiras dizendo (como já dizem) que são demoníacas, que sacrificam animais (como se o Velho Testamento não estivesse cheio de sacrifícios), que somos um "país cristão" e que a "sociedade tradicional" não aceita estes "rituais atrasados".

Logrando êxito, passarão a perseguir os católicos, porque eles "adoram" imagens, porque o padre usa batina, porque os padres fazem voto de celibato e que nada disto está previsto na bíblia, exceto que a adoração de imagens é uma abominação.

Então, revogando Leis e criando outras visando satisfazer seus interesses, estes fundamentalistas cristãos, em um futuro muito próximo, imporão todo o seu sistema de crença e de moral a todos os brasileiros, sempre justificando com os mesmos argumentos que servem tanto para impedir o casamento entre pessoas de etnias diferentes, como para o de pessoas do mesmo sexo.

Quando acordamos, estaremos vivendo em uma teocracia fundamentalista cristã, onde não somente o casamento, o sexo, e a demonstração pública de afeto entre pessoas do sexo será crime, mas também onde o Estado nos dirá a qual divindade rezar, quais as práticas sexuais poderemos ter, o que ler, o que assistir, em quem voltar.

A exemplo das teocracias islâmicas fundamentalistas, vamos começar a prender e, por que não, executar homossexuais, ateus, oposicionistas políticos, que faz sexo não sendo casado, quem come carne de porco ou não frequenta uma igreja.

Se você está lendo este texto e acha que é um exagero, que estas coisas não podem acontecer, pesquise um pouco sobre como funciona em países islâmicos.

Veja, por exemplo, o Irã pós-revolução islâmica o que virou.

Os aiatolás foram aos poucos impondo a "Sharia" e hoje vivem em uma sociedade dominada por conceitos e preceitos arcaicos, ao ponto de se declarar que relações sexuais entre pessoas não casadas são a causa de terremotos e outros desastres naturais, para justificar mais uma Lei que regula as relações interpessoais.

Quem quer garantir a própria liberdade, deve preservar da opressão até o inimigo, pois se fugir a esse dever estará a estabelecer um precedente que até a ele próprio há-de atingir, já nos ensinava Thomas Paine no século XVI.

Então, quando levantar a sua voz para ovacionar arbitrariedade contra homossexuais, lembre-se que um dia, por conta dos meus argumentos, os seus direitos também poderão ser feridos.


Garanta, portanto, a LIBERDADE DE TODOS, para que um dia, caso seja você o oprimido, garantam a sua.