Na data de ontem, 18/09/2013, escrevi uma nota em meu mural de uma rede social onde
critiquei veementemente a postura do deputado federal e pastor Marco Feliciano
em ter dado voz de prisão à duas jovens lésbicas que se beijaram durante um
culto em LOCAL PÚBLICO. Fui procurado pelo responsável pela página
"Cartazes e Tirinhas LGBT", que pediu autorização para replicar meu
texto naquele espaço, o que autorizei sem maiores problemas.
Como era de esperar, muitos dos meus contatos aqui no Facebook
vieram me perguntar se sou homossexual, visto que não é a primeira (e nem
será a última) vez que publico algum texto defendendo os direitos dos casais
homoafetivos.
Não sou homossexual.
Assim como não sou usuário de drogas, mas defendo a legalização
das mesmas.
Assim como não sou negro, mas defendo o fim do racismo e do preconceito por conta de etnia.
Assim como não sou negro, mas defendo o fim do racismo e do preconceito por conta de etnia.
Assim como não sou muçulmano, mas defendo que nem todo muçulmano
é terrorista.
Assim como não sou indígena, mas defendo que estes povos tenham
suas terras e suas tradições respeitadas e preservadas.
Assim como não tenho um filho ou parente excepcional, mas sou
contra o fechamento das APAE's.
Eu não preciso estar inserido dentro de uma determinada situação
para defender o que é justo, o que é certo.
As pessoas estão sempre muito preocupadas com o seu próprio
umbigo, em advogar em causa própria, e esquecem que podemos ser, simplesmente,
solidários e cerrarmos fileiras contra aquilo que consideramos injusto.
Lamento, novamente, que tanta gente instruída, com valores
morais sólidos, educadores e formadores de opinião, aplaudam e tentem
justificar esta verdadeira "guerra santa" que alguns políticos e
religiosos declararam contra a comunidade homossexual brasileira.
Entristece-me ver como o preconceito está ali, travestido, em
palavras como "sociedade tradicional", "tecido social",
"respeito à família", dentre tantos outros eufemismos que se traduzem
em simples e completa intolerância e aversão ao diferente.
Os argumentos usados, em especial os que evocam conceitos
religiosos, purista ("isto não é natural") e a tal "moral
social" para justificar a proibição da união de pessoas de etnias
diferentes. Não era "natural", a sociedade não "aceitava" e
Deus era "contra" um branco casar-se com uma negra.
Na verdade, velhos argumentos para um novo preconceito.
O que vai romper o tecido social neste país não é a equidade de
direitos aos casais homossexuais, nem a demonstração pública de afeto ou mesmo
a adoção de criança por parte deles. O que romperá a ordem social neste país é
a corrupção, os privilégios à políticos, a falta de solidariedade, a
insistência do brasileiro em olhar para o seu próprio umbigo, a intolerância
religiosa, a injusta distribuição das riquezas, a falta de educação e saúde de
qualidade.
Hoje um setor radical e fundamentalista evangélico, escudado por
sua bancada no Congresso Nacional, persegue homossexuais justificando isto como
"defesa da família", "tradição social", "ordem de Deus".
Amanhã passarão a perseguir religiões afrobrasileiras dizendo
(como já dizem) que são demoníacas, que sacrificam animais (como se o Velho
Testamento não estivesse cheio de sacrifícios), que somos um "país
cristão" e que a "sociedade tradicional" não aceita estes
"rituais atrasados".
Logrando êxito, passarão a perseguir os católicos, porque eles
"adoram" imagens, porque o padre usa batina, porque os padres fazem
voto de celibato e que nada disto está previsto na bíblia, exceto que a
adoração de imagens é uma abominação.
Então, revogando Leis e criando outras visando satisfazer seus
interesses, estes fundamentalistas cristãos, em um futuro muito próximo, imporão
todo o seu sistema de crença e de moral a todos os brasileiros, sempre
justificando com os mesmos argumentos que servem tanto para impedir o casamento
entre pessoas de etnias diferentes, como para o de pessoas do mesmo sexo.
Quando acordamos, estaremos vivendo em uma teocracia
fundamentalista cristã, onde não somente o casamento, o sexo, e a demonstração
pública de afeto entre pessoas do sexo será crime, mas também onde o Estado nos
dirá a qual divindade rezar, quais as práticas sexuais poderemos ter, o que
ler, o que assistir, em quem voltar.
A exemplo das teocracias islâmicas fundamentalistas, vamos
começar a prender e, por que não, executar homossexuais, ateus, oposicionistas
políticos, que faz sexo não sendo casado, quem come carne de porco ou não
frequenta uma igreja.
Se você está lendo este texto e acha que é um exagero, que estas
coisas não podem acontecer, pesquise um pouco sobre como funciona em países
islâmicos.
Veja, por exemplo, o Irã pós-revolução islâmica o que virou.
Os aiatolás foram aos poucos impondo a "Sharia" e hoje
vivem em uma sociedade dominada por conceitos e preceitos arcaicos, ao ponto de
se declarar que relações sexuais entre pessoas não casadas são a causa de
terremotos e outros desastres naturais, para justificar mais uma Lei que regula
as relações interpessoais.
Quem quer garantir a própria liberdade, deve preservar da opressão
até o inimigo, pois se fugir a esse dever estará a estabelecer um precedente
que até a ele próprio há-de atingir, já nos ensinava Thomas Paine no século
XVI.
Então, quando levantar a sua voz para ovacionar arbitrariedade
contra homossexuais, lembre-se que um dia, por conta dos meus argumentos, os
seus direitos também poderão ser feridos.
Garanta, portanto, a LIBERDADE DE TODOS, para que um dia, caso
seja você o oprimido, garantam a sua.