quarta-feira, setembro 18, 2013

A RELIGIÃO E O HUMOR

O Brasil vive o que chamo de "Idade Média tardia", em especial no que diz respeito ao fanatismo religioso e, consequentemente, a ascensão política de alguns líderes evangélicos como é o caso do pastor e deputado federal Marco Feliciano que é, na minha opinião, um dos maiores cânceres políticos que este país já viu.

O que vemos hoje, politicamente falando, é uma enorme influência de setores religiosos nas decisões de Estado, enterrando de vez a ilusão de que o nosso país é um Estado laico.

A figura pitoresca de Marco Feliciano, secundada pelo pastor Silas Malafaia, tem rendido muitas polêmicas e discussões, dentre elas a liberdade de expressão, direito fundamental em qualquer país que queira se denominar democrático.
No entanto, não vamos tratar aqui das asneiras teológicas sobre negros amaldiçoados ou a "abominação" do comportamento homossexual. Não vamos falar também do recente abuso de autoridade do deputado-pastor em dar voz de prisão à duas jovens que se beijavam em local público e a indelicadeza e falta de ética deste desqualificado em tratá-las como "cachorrinhas".

Como nossos políticos não trabalham, fica fácil para Marco Feliciano ficar em redes sociais patrulhando ideologicamente seus conteúdos. Não faz muito tempo o "nobre deputado" conclamou ao "povo de Deus" para que que denunciassem este vídeo do grupo de humor "Porta dos Fundos". A imprensa chegou a noticiar que o parlamentar acionou até mesmo a Polícia Federal para retirar do ar o material que ele considerou "ofensivo" a fé cristã.

Toda esta movimentação abriu um debate sobre o humor com temas religiosos, se os humoristas tem ou não o direito de brincar com a fé dos outros.

A minha resposta a isto é um sonoro SIM.

Devemos entender que nada e ninguém está imune a críticas, inclusive a religião. O que é "sagrado" para um, pode não ser para outro e se começarmos a censurar a livre manifestação de pensamento simplesmente porque aquilo atinge nossos valores, então estaremos instituindo bilhões mordaças e, por fim, a tal liberdade de expressão deixará de existir.

Por outro lado, sentir-se ofendido com uma sátira, charge ou piada envolvendo suas crenças não faz nenhum sentido. Havemos de deixar de lado esta mania de agirmos como verdadeiro "advogados dos deuses", em vermos preconceito em qualquer coisa que brinque com nossas crenças.

A sátira atinge aspectos negativos não da religião, mas sim da religiosidade. São os fanáticos que veem a figura de Cristo em torradas e janelas, é aquele umbandista que enxerga e fala de entidades 24 horas por dias, que as únicas músicas que escuta são religiosas, o sujeito que oferece trazer a pessoa amada em três dias, dentre tantas outras esquisitices e extremismos.

Os religiosos de todos os credos vivem a clamar que são alvo de intolerância. Portanto, vamos dar o exemplo e sermos tolerantes e bem humorados. Nossos Orixás, Guias e Protetores, tenho certeza, o são.