terça-feira, julho 08, 2008

DO REINO DO CANINDÉ: UMBANTIMBÓ

Existem algumas coisas impressionantes no atual Movimento Umbandista, mas nada que se compare as posturas convenientes de uns e outros por ai. É tanta mistificação para que fiquem bem diante da comunidade, que a situação já passou, no meu entender, faz tempo, dos limites do aceitável.

Recebi ontem um e-mail falando de um ritual denominado "Oro Ashe Eshu", que foi levado à cabo no Centro de Cultura Viva das Tradições Afro-brasileiras, entidade esta, para variar, ligada à OICD. A mensagem trazia um link que nos permite visualizar as
fotos de tal evento. Como sou uma pessoa ávida por informações, entrei no endereço fornecido.

Sinceramente, não sei traduzir em palavras o sentimento que me tomou no momento que abri as fotos. Foi uma mistura de riso seguido de uma profunda convicção de que Rivas Neto e os seus criaram um nova religião, que nada tem de semelhante à Umbanda que o mesmo aprendeu com o saudoso Mestre Yapacani (Matta e Silva). Indo mais além, nada tem de Umbanda, seja de qual ramo doutrinário for.

O ritual que vemos nestas fotos pode levar os mais desavisados a acreditar que se trata de Candomblé e jamais de Umbanda. O simbolismo, a terminologia empregada, tudo oriundo dos Cultos de Nação.

Mas, até ai... vá lá... temos algumas pessoas que acreditam que a Umbanda é uma espécie de "filha caçula" dos Cultos de Nação, é por isto empregam elementos destes naquela. Criou-se até um termo para designar isto: Umbandomblé. O que, há muito tempo, em minha opinião, é o que se pratica dentro da OICD.

O melhor (ou pior, não sei ao certo...) vem sempre no final, não é mesmo?

Nas últimas fotos, somos informados de que os participantes, após o tal ritual com "Eshu", adentram o "Santuário da Jurema (Encantaria)" e ali, "acostado" (termo usado no nordeste para designar a incorporação dos Mestres de Linha do Catimbó...) em Rivas Neto, teriamos o "Mestre Canindé", que conversava com os mesmos.

Ou seja, de Candomblé (com direito ao uso do adjá e tudo mais...), a coisa "virou" para o Caá-timbó.

Impressionante !!!

Para ser fiel à verdade, devo confessar que, pelo incrível que possa parecer, fui um fã de Rivas Neto e suas obras. A primeira vez que pisei na OICD, isto pelos idos de 1995 / 96, senti uma emoção que levou-me às lágrimas. A vibração daquele lugar era fantástica, uma sensação de paz, harmonia, uma experiência, até aquele momento, que havia sido única para mim.

À época, era médium da Tenda de Umbanda Oriental - II, dirigida por Mestre Kariumá e recordo-me de uma certa inveja por parte dele e de meus "irmãos" de Terreiro por eu estar indo à São Paulo e visitando a OICD. Fui instruído, pelo então meu Mestre, para identificar-me como INICIADO da Raiz e levar um fraterno abraço de nosso Grupo ao Mestre Arapiaga. Fui muito bem recebido na OICD e, pasmem, Arapiaga até trocou dez minutos de "prosa" comigo.

Infelizmente, tudo isto mudou.

Da última vez que estive na OICD, acredito que por volta de 2001, as mudanças já haviam começado e se percebia a "metamorfose". Não havia mais aquela vibração, aquele ambiente, que anos antes me fez chegar às lágrimas.

Como eu sempre digo, assim como um dia Mestre Yapacani e o próprio Arapiaga disseram, Umbanda não é Candomblé, não é Catimbó, não é Toré... Umbanda é UMBANDA.

A inserção de elementos de outros sistemas filo-religiosos à mesma, este "ecumenismo" ritualístico que Rivas Neto e os seus propõem é um ABSURDO em termos esotéricos, energéticos e, principalmente, espirituais. Longe de dar uma identidade à Umbanda, pelo contrário, atrela noss religião à uma verdadeira "colcha de retalhos", fazendo que percamos ainda mais a identidade, isto sem falar na TREMENDA contradição entre o que Rivas Neto escreveu e pratica.

Senão, vejamos.

Em sua obra "Umbanda - A Proto-Síntese Cósmica", pág. 262/263, 3º edição, 2002, Rivas Neto fala o seguinte sobre o Catimbó:

"(...) Vejamos agora algumas formas degeneradas de cultos. Se há o aspecto essencialmente positivo, há também os aspectos negativos que vêm influenciando milhares de pessoas. Assim, existem o Catimbó, o Toré, o Xambá e a dita Macumba. São eles apêndices negativos que sobraram da vivência atávica fetichista da mais baixa estirpe, atuando neles, é claro, consciências deveras endividadas, quando não completamente inexperientes, isto é, com pouquíssimas noções do certo ou do errado, do bem e do mal." (negritos nossos)

Exceto que o que está escrito, seja mais uma das "verdades relativas" do Astral (lembro que esta obra, supostamente, foi escrita por uma Entidade do Astral Superior, o Caboclo Sete Espadas), devemos entender que na OICD, quando se abre uma "mesa juremeira", está ali se praticando uma "forma degenerada de culto", onde "consciências endividadas", "completamente inexperientes", estão atuando? Ou, como tudo que vem da OICD, mesmo que dentro de aberrantes contradições, o "nosso Catimbó é melhor do que o Catimbó" dos outros?

Segue Rivas Neto - Sete Espadas, falando sobre tal Culto:

(...) Dentre esses cultos, um dos mais atrasados vibratoriamente falando e pesadíssimo em seus rituais é o dito Catimbó. O Catimbó é originado de uma mistura de cultos degenerados. As degenerações da pajelança, associadas aos rituais Congo-Angola, aliadas às práticas de bruxaria e feitiçaria de todos os tempos, compõem o dito Catimbó. Sofreu também fortes influências do catolicismo e kardecismo. Embora suas finalidades sejam a cura dos males físicos e os de ordem astral, há também os trabalhos para o bem e para o mal, todos debaixo de uma grosseira e violenta corrente vibratória. Seus sacerdotes, quase sempre homens, são chamados de Mestres e as Entidades evocadas são os Mestres de Linhas. Sinceramente, com todo respeito, são o que há de mais trevoso no submundo astral.

(...)

As Entidades que baixam aproveitam a ignorância e a inexperiência dos crentes para torná-los verdadeiros escravos de suas torpezas." (negritos nossos)

Ou seja, de repente o Catimbó não é nada disto mais? Foi saneado, talvez pelas "portentosas" (como ele gosta desta palavra...) Entidades que atuam na mediunidade de Rivas Neto e na OICD? O tal "Mestre Canindé", que "acosta" em Rivas Neto hoje, diferente dos demais Mestres de Linha, não é mais o "que há de mais trevoso no submundo astral"?

Com certeza, se perguntarmos à Rivas Neto e/ou aos seus discípulos o motivo de tão abjeta contradição entre "teoria" e "prática", receberemos a mesma resposta que temos para o uso de atabaques, outrora proibidos, agora liberados: tem de saber tocar (fazer).

Enfim, um resposta que leva aos incautos, aos 'boizinhos de presépio", que usam suas cabeças simplesmente para manter o cabelo no lugar ou usar chapéu, a acreditar que realmente Rivas Neto e a OICD, são um pedacinho de Aruanda na Terra e que eles têm o poder de mudar não somente a Umbanda, mas qualquer outra religião, ao seu bel prazer, já que recebem "revelações" do "Astral" e que devem ser seguidas por mais contraditórias que sejam.

Depois destas e outras, Roger Soares (Araobatan) ainda tem a pachorra de questionar o Rogério Queiroz sobre contradições entre o que Rubens Saraceni escreve e efetivamente defende.

Ser condizente com aquilo que prega é o que difere os Mestres de verdade daqueles que pretendem sê-lo.