quarta-feira, fevereiro 22, 2006

CODIFICAÇÃO DA LEI DE UMBANDA: O 13º TRABALHO DE HÉRCULES

"Nao haverá uma religião única para todos os homens, mas sim tantas religiões quantos forem os homens."
(Vivekananda)

Não é incomum deparar-nos com este assunto dentro de nossos Terreiros, grupos de debates e em centenas de site falando sobre Umbanda. Alguns inclusive já escreveram obras "definitivas" sobre o tema, apresentando "códigos", cartilhas, "bíblias" que vendem como "pão quente", sendo que a maioria destes títulos encontram-se esgotados. Um bom negócio para as editoras e os autores, mesmo em um país que tem um dos menores índices de venda de livros "per capita" do mundo.

Mas, além de melhorar a vida financeira de alguns, tantas obras com as mais variadas teorias, fatos "históricos" em relação à Umbanda, deturpações e outras tantas invencionices que alguns juram ter sido reveladas por um "Orixá" ou "Entidade de altíssima elevação", vem tentando fazer o impossível, ou seja, criar um padrão ritualístico, doutrinário, enfim, litúrgico para a Umbanda. Seria mais fácil matar uma legião de Cérberos...

A ritualística não é o que se geralmente se julga ser. Todos os Umbandistas sabem que isto é apenas o símbolo exterior da obra interna. Milhares de homens e mulheres de boas qualidades tomam a letra do Espírito e é nesse modo de agir que começa o seu engano. Nada de novo pode suceder à Umbanda, porém há, nela, uma vasta soma de Verdades que a maioria nada sabe, e é por esta razão apegam-se mais aos aspectos externos da religião do que ao aspectos internos, espirituais, que nos levam realmente aos objetivos que a Espiritualidade Superior realmente quer que alcancemos.

Os Rituais da Umbanda, independente da linha doutrinária que sigam, são baseados em uma Lei natural: "A Iniciação e a Regeneração são termos sinônimos". A simples inculcação de princípios morais ou as lições de moral, e sua ilustração simbólica e representação, não são coisas vãs. Elas despertam a consciência e o sentimento moral de todo homem, e nenhum ser humano perdeu suas boas qualidades por seguir este ou aquele Ritual, desde que seu objetivo esteja em sintonia com a Espiritualidade Superior.

A cerimônia exterior é morta e de utilidade apenas como símbolo e ilustração, esclarecendo assim a mudança interna. Transformar significa "regenerar", e isso se dá por provas, por esforço, pela desilusão, pelo insucesso, e uma renovação diária da luta. É assim que o Umbandista deve, ao nosso ver, buscar uma "codificação", um caminho comum à todos. A consumação do Ritual e da doutrina é o encontro com o Sagrado e não um questão de didática.

Não sabemos uma coisa porque a dizem à nós. Que os Orixás gritem continuamente a Verdade de todos os tempos nos ouvidos do tolo, ele continuará sempre preso à tolice. Aqui está a concepção e a base essencial de toda a ritualística . É o conhecimento, desenvolvido gradualmente, de um modo ordenado e sistemático, passo a passo, à proporção que a capacidade de aprender se abre ao Adepto. O resultado não é uma posse, mas sim um crescimento, uma evolução. o conhecimento não é uma simples soma ou adição> alguma coisa acrescentada a outra que já existe; mas sim uma mudança ou transformação progressiva da estrutura original , de modo a torná-la, a cada passo, um novo ser. O conhecimento ou o desenvolvimento da Sabedoria no homem é um eterno porvir; uma transformação progressiva na semelhança da Suprema Bondade e do Supremo Poder.

Infelizmente, aplicamos à nossa Religião o mesmo egoísmo que expressamos em relação às outras coisas. É o mesmo espírito partidário de nossa política, e isto, mais do que tudo o que parece justificar o egoísmo em geral, é contrário á fraternidade humana e impede a fundação de um "corpo umbandístico", constituído de muitas linhas doutrinárias e litúrgicas. Esta idéia da Fraternidade Universal, que era uma doutrina capital dos Antigos Mistérios - como se acha incluída no primeiro postulado da Doutrina Secreta (H.P Blavatsky) e é, abertamente declarada no terceiro; e a qual ocupa também o primeiro lugar na "verdadeira" Umbanda - é a dedução lógica de nossa idéia de Divindade, e da natureza e significação essencial do Cristo.

A Umbanda não pode fazer distinção de cor, sexo ou qualquer outra coisa. Nisto esta a sua segurança e, por meio desta, gradualmente produzirá a Fraternidade Universal entre aqueles que se dizem "Irmãos" em Oxalá.

Enquanto a mente inferior estiver presa pelo desejo, o homem não pode procurar ou discernir o Bem ou a Verdade. Pergunta: "Que é bom para mim?" Liberto do Desejo, ou da inclinação pessoal de ser o "melhor", o "mais entendido", o "Codificador" ou "Restaurador" de algo, pergunta e procura o que é bom ou verdadeiro em si mesmo. Quando atinge esse estado e o conserva habitualmente, diz-se que o quadrado ("matéria") está inscrito no triângulo ("espírito"). Então a natureza inferior se acha unida com a Divina ou Alma Espiritual. O conhecimento e o poder do homem não permanecem mais limitados ou circunscritos pelo plano inferior, ou o corpo físico; porém, transcendendo- o pela Regeneração (domínio próprio), e tornando-se perfeito na Humanidade, o homem alcança a Divindade. Essa é a significação, objeto e consumação da Evolução Humana; e esta Filosofia define o único processo pelo qual pode ser atingida.

Essa é, em resumo, a linguagem e a filosofia do simbolismo, ou do vestuário exotérico ou esotérico da Verdade perpetrada e reconhecida por cada "Escola" Umbandista. O próprio método, além de seus detalhes ou aplicações, possui uma significação mais profunda do que o compreende a maioria das pessoas. Este método de instrução não é imaginário ou arbitrário, mas sim conforme ao processo da Natureza Eterna na formação do átomo ou de um mundo, uma margarida ou um homem. Cada um é, por sua vez, símbolo do outro. Daí vem as palavras da Tábua de Esmeralda: O que está em cima é igual como o que está embaixo. Todas as coisas exteriores são, pois, símbolos e incorporações de idéias pré-existentes, e desse reino ideal subjetivo é que todas as coisas invisíveis emanaram.

Partidos religiosos, sociedades secretas, seitas de toda espécie, constituíram o panorama variável da vida religiosa do mundo durante os últimos oitocentos anos, E, ao lançarmos nossas vistas ao passado, desde nosso ponto atual, será difícil, às vezes, discernirmos as tradições místicas, se não possuímos a Chave, tão alto se elevam os clamores dos diversos ritos e tendências dentro da Umbanda, que são a expressão exterior de nossa fé interior.

A Umbanda já está codificada nestas em palavras: AMOR E CARIDADE. A liturgia, a ritualística e a doutrina, por mais elaboradas que sejam, por mais belas, nada valem se o corpo mediúnico do Terreiro não estiver sendo motivado por estes dois sentimentos.

Sendo assim, que os pretensos "codificadores" e "restauradores" da Lei de Umbanda, tenham uma crença inabalável em Zeus, Senhor do Olimpo, pois precisarão de força hercúlea para realizar a façanha de englobar em uma só realidade, em uma a só Doutrina, tanta diversidade, tantas formas de se amar e praticar a Umbanda.