Para quem não sabe, "Tai Lung" é um tigre-das-neves, o vilão do desenho animado "Kung Fu Panda", extremamente poderoso, versado nas artes marciais ensinadas à ele desde a mais tenra idade pelo pequeno e sério panda vermelho conhecido como Mestre Shifu.No decorrer do filme, descobrimos que Tai Lung era um exímio aluno, extremamente cotado, e capacitado tecnicamente, a receber o chamado "Pergaminho do Dragão" e através dos ensinamentos ali contidos se tornar o "Dragão Guerreiro", uma espécie de "Mestre dos Mestres".
Acontece que Mestre Oogway (uma simpática e sábia tartagura) reconhece em Tai Lung um espírito negro, perverso, ambicioso, com idéias de conquistas e veta seu acesso a tal documento, acarretando a ira do vilão que quase destrói todo o Templo, assim como a vila que fica ao sopê do seu monte.
Dominado por Mestre Oogway, Tai Lung é aprisionado em uma fortaleza, mas consegue escapar, jurando vingança contra seus antigos Mestres, assim como se apossar do pergaminho sagrado tornando-se assim o "Dragão Guerreiro".
Não, caro leitor, esta não é uma resenha cinematográfica.
Hoje, por causa de meu filho de oito anos, me dei conta de que poderia criar uma história semelhante à esta, trazendo toda esta trama para a realidade umbandista. Vejamos:
Era uma vez um Mestre de Umbanda, que por ordem do Astral Superior revelou ao mundo uma nova doutrina, uma visão diferente das coisas da "Banda". Este Arauto escreveu várias obras de extrema importância, fundou sua Escola Iniciática e ali formou vários iniciados, sendo que sete deles se destacaram.
No meio destes sete, é bem verdade, havia um que não tinha se destacado tanto assim, mas que por insistência e inconveniência acabou por impor su apresença ao Velho Mestre, levando-o ao corolário da Iniciação. Não podemos deixar de dizer que dentre os sete Iniciados, este último era o mais jovem e inexperiente de todos.
Com a morte do Velho Mestre, surge um vácuo de poder na Escola Iniciática que ele fundou. Devido a inércia (e por que não dizer, IRRESPONSABILIDADE) dos Iniciados mais antigos, inclusive aquele que deveria ser o sucessor de fato e de direito, o ambicioso e jovem discípulo USURPA a posição e se auto-intitula sucessor e continuador da obra do finado sacerdote.
Para manter esta farsa, divulga documentos, afirma que todo o processo de sucessão estaria fartamente documentado, inclusive com um vídeo que ninguém nunca assistiu, e ganha, pelo menos por algum tempo, um "status" e reconhecimento que, definitivamente, não o pertencia.
Enfim, depois de várias tentativas em lucrar alguma coisa com o legado do finado Mestre, o usurpador larga de lado tudo aquilo que aprendeu, passa a praticar coisas que sempre condenou e, ao final, começa o desmonte e a extinção da herança literária e espiritual de seu antigo tutor.
A diferença entre os "Tai Lungs" é uma só: o nosso conseguiu se apoderar do "Pergaminho do Dragão". Mas quando viu que não havia nada escrito, que não conseguiria os lucros e vantagens que desejava, simplesmente o abandonou.
O interessante nesta triste história, é que o nosso "Tai Lung" será derrotado pela própria ambição. Cercou-se de discípulos tão espúrios como ele mesmo ("semelhante atrai semelhante", não é mesmo?), incluso um pobre coitado, diabético, cego de um olho, que a única coisa "importante" que conseguiu na vida foi ser feito "mestre" por "Tai Lung".
O que o nosso "Tai Lung" não consegue enxergar é que é exatamente de onde menos se espera (como foi o caso dele com o seu antigo Mestre) é que chegam a surpresa e a traição. Aliás, alguns ex-habitante da vila ao sopê do Templo de "Tai Lung", afirmam que algumas coisas sérias já ocorreram entre o Mestre e seu discípulo caçula.
Afinal de contas, como disse Esopo: "Engana-se quem pensa que ser notório é ser honrado."
Mas, é claro, esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido mera coincidência... ou não? =)
