segunda-feira, novembro 03, 2008

UMBANDA E A PRÁTICA DA FALSA CARIDADE

Fora da Caridade não há salvação.

Esta é a máxima seguida - pelo menos dizem que seguem - pela maioria daqueles que se declaram espíritas e umbandistas.

Fala-se muito da tal "caridade", da necessidade de auxiliar àqueles que aos nosso Templos, Tendas, Terreiros e Choupanas acorrem atrás de auxílio para as mais diversificadas mazelas, sejam elas do espírito e/ou da carne.

A "caridade" pregada e praticada - ao que vejo - pela maioria, resume-se em abrir as portas de sua Casa de trabalho aos necessitados, ouvir suas lamúrias, seus "causos" infinitos, proceder um passe magnético, receitar um banho de "descarga", um vela para "tratar" do anjo da guarda e muita, muita oração.

Há muito tempo, quando ainda participavamos de um determinado Terreiro de Umbanda "Esotérica", perguntaram à um "Preto-Velho" sobre o significado real da caridade. A resposta foi:

"A 'primeira' caridade é para com você mesmo. Ninguém pode auxiliar necessitando, ele próprio, de auxílio. A 'segunda' caridade é com as pessoas que convivem diuturnamente convosco. Se não consegue ter espírito caridoso, mansidão, compreensão, retidão com aqueles que fazem parte de sua vida, como seus familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, como estará apto a auxiliar um desconhecido? Por último, deve pensar que a caridade extrapola os limites do Terreiro, ou seja, o espírito de "caritas" deve estar em você o tempo todo."

Com base nestes princípíos expostos por "Preto-Velho", façamos uma análise crítica da "caridade" tão pregada, exigida e colocada como alicerce da prática da Umbanda.

Alguns prestam seus serviços nas reuniões no Terreiro, mas ao chegar em casa sentam-se diante do computador e atacam outros umbandistas pelas diferenças doutrinárias. Fomentam a discórdia, incentivam a guerra fatricida, difamam, caluniam, ameaçam.

Outros, ao sair do Templo, no primeiro erro de outro motorista soltam impropérios, partem para a provocação e querem revidar, de qualquer forma, o erro cometido pelo outro. Chegam em casa destratando seus filhos, suas esposas, enfim, seus familiares.

Dentro do Terreiro, aconselha ao consulente a eximir-se de bebidas alcóolicas, fumo, drogas, mas não passa um dia sequer sem tomar aquele aperitivo, fumar alguns cigarros ou, até mesmo, relaxar tragando a fumaça da "cannabis".

O "poderoso" dirigente, por absoluta incompetência, proibe seus filhos de ler esta ou aquela obra, frequentar outras Casas de Umbanda, já que teme que estes comprovem que ele é tão neófito como eles mesmos.

É uma caridade falsa, hipócrita, farisáica.

Como dizia o velho Matta e Silva, são um bando de mariposas voando e se debatendo em torno da "banda", sem saber ao menos definir a origem daquela luz.

Falam de "caridade" da boca para fora, querem tirar a viseira do próximo, mas eles mesmos estão vendados.A falsa caridade está na moda no meio umbandista, com este conceito de que "tudo pode, tudo deve, tudo é aceitável", esta teoria absurda de que "união", "diversidade", "pluralidade" e "convergência" são sinônimos de "condescendência".

Para muitos, para que se seja "politicamente correto", devemos aceitar, dentro de nossas próprias Casas, fantasias, matanças de animais, dentre outras práticas estranhas ao nosso próprio rito. Isto, na visão destes hipócritas, é "caridade", "união" é "convergência".

A "caridade", nesta visão fajuta e deturpada da "umbanda do vale-tudo", é proceder matanças, roupas carnavalescas, beberrança, no intuito de nos aproximarmos dos Irmãos que assim agem.

É uma forma, dizem os defensores de tal absurdo, de nos mostramos "iguais" aos demais.

A "união" estaria expressa em todos fazendo, em conjunto, as mesmas coisas.

A "convergência" seria todos com um mesmo objetivo, mesmo que para isto praticas abomináveis, ao nosso ver, tenham de ser toleradas.

Isto é farisaismo, imposição, ditadura, contradição, preconceito à avessas.

Em meu Terreiro manda o Guia chefe e suas ordens são seguidas à risca. Em nome de conseguir um "crachá" de "caridoso" e "tolerante" não farei matanças de animais, não macularei as areias sagradas de seu Templo com repasto para kiumbas, muito menos me curvarei ao argumento falacioso de que matamos para nos alimentar, então não deveriamos condenar o sacrifício animal afim de servir de "comida" aos Orixás, Guias e Protetores.

Realmente, o homem mata para se alimentar. Isto é um fato.

Contudo, ele ainda carece da proteina animal para sobreviver, ainda assim nem todos. Muitos conseguem viver, muito bem, sendo lacto-vegetarianos. O que nenhum partidário da matança de animais ainda conseguiu me explicar é o motivo de Orixás e espíritos desencarnados, esclarecidos, harmonizados com o Astral, precisarem de sangue. Não consigo conceber que os Orixás, mantenedores da vida, precisam de morte para se sustentarem,

Não há respostas, explicações, teses... nada.

Para, estes sim, "cobras cegas" que engrossam a massa cambaleante desta "era dourada" da Umbanda, não há necessidade de explicações. Não há o que se refutar ou, mesmo que simplesmente questionar, as múltiplas contradições. Apenas, e tão somente, acatar as ordens, cantar loas ao contraditório "pai das sete linhas" e seus discípulos e, apesar da pregação de "convivência pacífica", "atropelar" qualquer "infiel" que ouse questionar qualquer coisa.

O pior é que ainda aparce um "maria-vai-com-as-outras" para explicar que uma verdadeira ordem iniciática deve adaptar-se "as necessidades mais urgentes da massa umbandista inclusive se travestindo para atender as espectativas desse povo". (sic)

Expectativas?

Matança de animais é expectativa de alguém que se dirige à um Terreiro "em busca de festas ou para resolver seus casos que nunca terminam"? Tenho 23 anos de Umbanda e JAMAIS tive notícias de um assistente ou visitante que se aproximasse do dirigente de uma Casa e perguntasse quantos animais foram sacrificado para aquela reunião.

Para variar, conversa para "boi dormir". Os "puxa-sacos", afim de demonstrarem um "alinhamento", acabam escrevendo montes de asneiras e complicando ainda mais a situação.

A "caridade" agora, pelo visto, é banquetear KIUMBAS como dezenas de animais diversos mortos e ser aplaudido pela massa acéfala.

Desta caridade absurda, desta aproximação grosseira, desta "diversidade" que fere a minha consciência à favor da alheia, realmente quero distância.

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Ilustração: "O Amigo da Onça", revista "O Cruzeiro", 29/08/1959 - site Memória Viva