quarta-feira, novembro 12, 2008

EXÔDO

Mesmo em época de faculdades de teologia, diversidade, convergência, convivência pacífica, "conselhos" ao gosto do freguês, a verdade é que o número de umbandistas no Brasil continua diminuindo, obviamente perdendo fiéis para as igrejas evangélicas, em especial para as neopentecostais.

Apesar de ter pesquisado muito, não encontrei dados estatísticos recentes, sendo que o último confiável é o censo do ano 2000 onde apenas 432.000 pessoas se declararam umbandista, representando uma queda de 20% em relação ao ano de 1991. Se formos considerar este percentual de evasão nos últimos 8 anos, poderemos estimar que o número de fiéis esteja em torno de 350.000. Não é difícil, portanto, deduzir que o aumento de fiéis das igrejas evangélicas é diretamente proporcional à diminuição deles na Umbanda.

É claro que o censo, no que pese seus critérios científicos, não é absoluto em seus números. A Umbanda, para muito gente que frequenta nossos Terreiros, até mesmo para médiuns e sacerdotes, é um religião secundária, uma espécie de complemento à fé católica.

Lembro-me que em uma "virada" de Exu, durante um bate-papo entre os presentes, ousei perguntar em alto e bom tom para as quase 200 pessoas que ali se encontravam quem realmente se considerava UMBANDISTA, sendo que somente cinco pessoas levantaram suas mãos: eu, minha esposa à época, as duas dirigentes do Templo (mãe e filha) e um rapaz da assistência. Nem mesmo o corpo mediúnico se declarou como tal.

A Umbanda para estas (e outras milhares) pesssoas nada mais é do que uma forma de resolver rapidamente seus problemas pessoais. Não é vista como uma religião "de verdade", onde todas as necessidades de cunho espiritual possam ser satisfeitas. Então, o médium umbandista frequenta as giras do seu Terreiro fielmente, sem faltar um dia sequer, mas na hora do casamento, do batismo da criança, do ritual fúnebre, salvo raras exceções, estará diante de um sacerdote da Igreja Católica Romana.

No entanto não é a Igreja de Roma que vem esvaziando nossos Terreiros, muito menos as igrejas evangélicas, sendo estas apenas o destino daqueles que abandonam a fé umbandista. Os responsáveis por este exôdo somos nós mesmos.

Apesar de nossos teóricos e entusiastas adeptos se vangloriarem que a Umbanda é uma religião onde a figura do diabo, de um inferno eterno, do pecado, etc, não existem, a coisa não é bem por ai. Para compensar a "descrença" em tudo isto, temos a visão de que o Orixá, o Guia, o Exu, castigam implacavelmente quem não cumpre suas ordens, podendo este castigo ser, inclusive, a morte.

Por detrás deste tipo de situação, temos sacerdotes que se aproveitam desta crença para manipular seus "filhos", conseguir favores de toda espécie (inclusive sexuais) e passam não somente a comandar a vida religiosa do adepto, mas também todos os demais aspectos de sua existência.

Conheço centenas de histórias, inclusive envolvendo gente famosa no meio, onde o Terreiro virou local de orgias, assim como as médiuns mais bonitas e graciosas, independente de serem casadas ou terem qualquer outro tipo de compromisso, eram "escolhidas' para servirem ao chefe do Terreiro após passarem por um "ritual interno" para a "ativação" do kundalini.

Obviamente, de vez enquando, os maridos, namorados, noivos, etc, se revoltam com a situação e partem para o confronto, com a disposição de defender a sua honra à base de tiro se necessário, mas afim de evitar o escândalo público os sacerdotes gastam um bom dinheiro para "calar a boca" dos envolvidos.

Há também os casos amorosos ilícitos, hetero e homossexuais, onde o poder dentro do Terreiro, não raramente, é exercido pelos amantes do chefe do mesmo, tendo eles competência ou não para tanto, além da falta de transparência em relação aos recursos arrecadados dentro da instituição, são fatores que afastam os buscadores sinceros da seara umbandista.

Nesta época, parafrasenado Crowley, do "fazes o que tu queres, pois há de ser tudo umbanda" não vejo perspectivas de mudança no esvaziamento de nossa religião, pelo contrário. Com esta verdadeira patrulha ideológica que se impõe, onde todos devem "bater cabeça" para a tal "diversidade", sem poder questionar absolutamente nada como sendo ou não de Umbanda, em minha opinião, a coisa tende é piorar.

A bagunça generalizada, o "mexidão" de ritos, doutrinas e, principalmente, a incorporação de práticas estranhas à religião, como a famigerada apometria, diferente do que muito querem e defendem, não cria diversidade, união alguma e sim confusão.

Chegará um dia que ao entrarmos em um recinto, não saberemos mais se aquele lugar pratica umbanda, candomblé, espiritismo, catolicismo ou é uma filial da "União do Vegetal" ou de um terreiro de Catimbó. Se bem que em alguns lugares isto já está acontecendo...

Na verdade, o que estamos presenciando é o início do fim da Umbanda. A poucos dias desta maravilhosa religião completar seu primeiro centenário, tenho minhas dúvidas se meus bisnetos terão algo a comemorar daqui a cem anos.