Vai canoeiro vai canoar
Vai canoeiro canoeirar
Canoeiro a sorte se avista no norte
Canoeiro o vento te leva pra lá
Canoeiro vai, Canoeiro vem
Tem um peito bronze queimado de sol
e coberto de fé
dá amor até a quem lhe negou
("Canoeiro", Paulo Diniz)
Vai canoeiro canoeirar
Canoeiro a sorte se avista no norte
Canoeiro o vento te leva pra lá
Canoeiro vai, Canoeiro vem
Tem um peito bronze queimado de sol
e coberto de fé
dá amor até a quem lhe negou
("Canoeiro", Paulo Diniz)
Todos temos uma função nesta vida.
A do Canoeiro, como bem expressa neste poema de Paulo Diniz, é "canoar", ou seja, manter-se em movimento, vencendo a água, não se limitando às margens do rio, enfrentando os seus perigos e, principalmente, levando outras pessoas a, pelo menos por alguns momentos, exatamente pelo tempo que dura a travessia, a experimentar a mesma sensação de liberdade que à ele é tão comum e rotineira ao singrar as águas do rio.
O Canoeiro, portanto, é um condutor.
Não um mero apontador do caminho, mas é aquele que leva as pessoas de uma margem à outra. É o que conhece os perigos daquelas águas, sabe o melhor ponto para aportar com segurança a sua canoa e, consequentemente, seus passageiros.
O mais célebre canoeiro de todos os tempos, sem sombras de dúvida, é Caronte. O barqueiro, que na mitologia grega, levava as almas ao Hades e, por conta de seu trabalho, exigia adiantado uma moeda como pagamento.
Segundo o mitólogo Thomas Bulfinch, ele “recebia em seu barco pessoas de todas as espécies, heróis magnânimos, jovens e virgens, tão numerosos quanto as folhas do outono ou os bandos de aves que voam para o sul quando se aproxima o inverno. Todos se aglomeravam querendo passar, ansiosos por chegarem à margem oposta, mas o severo barqueiro somente levava aqueles que escolhia, empurrando o restante para trás”.
Segundo a lenda, o barqueiro concordava apenas com o embarque das almas para as quais os vivos haviam celebrado as devidas cerimônias fúnebres, enquanto as demais, cujos corpos não haviam sido convenientemente sepultados, não podiam atravessar o rio, pois estavam condenadas a vagar pela margem do Aqueronte durante cem anos, para cima e para baixo, até que depois de decorrido esse tempo elas finalmente pudessem ser levadas.
Não sei ao certo se nós, Umbandistas, somos canoeiros ou aquelas almas que Caronte deixava para trás por não terem sido sepultadas devidamente e que por cem anos vagam às margens do rio aguardando ser resgatadas.
Este ano comemora-se o centenário do advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas, marco inicial do (re)surgimento da Umbanda e fico me perguntando se realmente temos algo a festejar.
A verdade é que o Movimento Umbandista está de cabeça para baixo. Apesar de toda esta propaganda massiva e enganosa de alguns setores, de uma "convergência", "diálogo", "convivência pacífica"... apesar das Federações e orgãos assemelhados, de uma movimentação política, de faculdade e tudo mais, a Umbanda continua, nos bastidores, sendo motivo de lutas fratricidas, disputas políticas, doutrinárias e econômicas.
Como eu sempre digo, a Umbanda vai muito bem - obrigado - os que estão mal são os umbandistas. Somos, realmente, aquelas almas perdidas, vagando de uma lado para o outro, às margens do Rio da Vida, esperando atravessar. Mas diferente do destino dos passageiros de Caronte, o nosso deveria ser "um mundo cheio de luz", conforme nos indica o "Hino da Umbanda".
Mas não...Não estamos indo nem para este Mundo Iluminado e nem para o Hades. Nem paraíso e, muito menos, tormento. Estamos ali, perdidos como cegos, sem rumo, sem destino. Nem Caronte nos aceitou.
O mais triste, porém, é quando estas almas tão perdidas começam a ouvir uma voz que se arvora em "condutor", como um instrumento do "astral superior" e que vem trazendo "revelações", normas, regras, doutrinas que se baseiam em uma temporalidade e conveniência por parte daqueles que as revelam.
Então, aqueles que pensam, raciocinam, questionam, são abandonados, sozinhos, às margens do grande rio, enquanto os demais seguem andando em círculos e submetendo-se às "verdades relativas" e momentâneas do seu "mestre". Mas estes nunca deixam de lançar um olhar por cima dos ombros afim de verificar se realmente o Canoeiro desponta.
Sim... porque da mesma forma que estas "verdades" são "momentâneas" (aforismo para "mentiras convenientes"), a fidelidade do seguidores também o é. Não existe honra entre as almas perdidas.
A do Canoeiro, como bem expressa neste poema de Paulo Diniz, é "canoar", ou seja, manter-se em movimento, vencendo a água, não se limitando às margens do rio, enfrentando os seus perigos e, principalmente, levando outras pessoas a, pelo menos por alguns momentos, exatamente pelo tempo que dura a travessia, a experimentar a mesma sensação de liberdade que à ele é tão comum e rotineira ao singrar as águas do rio.
O Canoeiro, portanto, é um condutor.
Não um mero apontador do caminho, mas é aquele que leva as pessoas de uma margem à outra. É o que conhece os perigos daquelas águas, sabe o melhor ponto para aportar com segurança a sua canoa e, consequentemente, seus passageiros.
O mais célebre canoeiro de todos os tempos, sem sombras de dúvida, é Caronte. O barqueiro, que na mitologia grega, levava as almas ao Hades e, por conta de seu trabalho, exigia adiantado uma moeda como pagamento.
Segundo o mitólogo Thomas Bulfinch, ele “recebia em seu barco pessoas de todas as espécies, heróis magnânimos, jovens e virgens, tão numerosos quanto as folhas do outono ou os bandos de aves que voam para o sul quando se aproxima o inverno. Todos se aglomeravam querendo passar, ansiosos por chegarem à margem oposta, mas o severo barqueiro somente levava aqueles que escolhia, empurrando o restante para trás”.
Segundo a lenda, o barqueiro concordava apenas com o embarque das almas para as quais os vivos haviam celebrado as devidas cerimônias fúnebres, enquanto as demais, cujos corpos não haviam sido convenientemente sepultados, não podiam atravessar o rio, pois estavam condenadas a vagar pela margem do Aqueronte durante cem anos, para cima e para baixo, até que depois de decorrido esse tempo elas finalmente pudessem ser levadas.
Não sei ao certo se nós, Umbandistas, somos canoeiros ou aquelas almas que Caronte deixava para trás por não terem sido sepultadas devidamente e que por cem anos vagam às margens do rio aguardando ser resgatadas.
Este ano comemora-se o centenário do advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas, marco inicial do (re)surgimento da Umbanda e fico me perguntando se realmente temos algo a festejar.
A verdade é que o Movimento Umbandista está de cabeça para baixo. Apesar de toda esta propaganda massiva e enganosa de alguns setores, de uma "convergência", "diálogo", "convivência pacífica"... apesar das Federações e orgãos assemelhados, de uma movimentação política, de faculdade e tudo mais, a Umbanda continua, nos bastidores, sendo motivo de lutas fratricidas, disputas políticas, doutrinárias e econômicas.
Como eu sempre digo, a Umbanda vai muito bem - obrigado - os que estão mal são os umbandistas. Somos, realmente, aquelas almas perdidas, vagando de uma lado para o outro, às margens do Rio da Vida, esperando atravessar. Mas diferente do destino dos passageiros de Caronte, o nosso deveria ser "um mundo cheio de luz", conforme nos indica o "Hino da Umbanda".
Mas não...Não estamos indo nem para este Mundo Iluminado e nem para o Hades. Nem paraíso e, muito menos, tormento. Estamos ali, perdidos como cegos, sem rumo, sem destino. Nem Caronte nos aceitou.
O mais triste, porém, é quando estas almas tão perdidas começam a ouvir uma voz que se arvora em "condutor", como um instrumento do "astral superior" e que vem trazendo "revelações", normas, regras, doutrinas que se baseiam em uma temporalidade e conveniência por parte daqueles que as revelam.
Então, aqueles que pensam, raciocinam, questionam, são abandonados, sozinhos, às margens do grande rio, enquanto os demais seguem andando em círculos e submetendo-se às "verdades relativas" e momentâneas do seu "mestre". Mas estes nunca deixam de lançar um olhar por cima dos ombros afim de verificar se realmente o Canoeiro desponta.
Sim... porque da mesma forma que estas "verdades" são "momentâneas" (aforismo para "mentiras convenientes"), a fidelidade do seguidores também o é. Não existe honra entre as almas perdidas.
De toda forma, continuemos aguardando o "canoeiro" que nos levará ao outro lado. Mas ao invés de buscarmos nos outros, procuremos dentro de nós mesmos e acharemos a resposta.