terça-feira, junho 03, 2008

CONCEITOS RELATIVOS OU CONVENIENTES?



"O diabo pode citar as Escrituras quando isto lhe convém"
William Shakespeare



Ontem ouvia um podcast que falava sobre atitudes contraditórias e incoerentes de um determinado "iniciado" ligado ao Rivas Neto, o que me fez chegar a conclusão que "contradição" e "incoerência" devem ser algum tipo de "ensinamento iniciático" na OICD, visto que a coisa já começa com o mestre.

Faz algum tempo que venho "cutucando" a questão do que o Rivas Neto escreveu em suas obras e aquilo que vem praticando hoje em dia na OICD. Aliás, este foi o grande motivo de "quebra-paus" homéricos nas listas de discussão entre eu e os discípulos do Arapiaga, que sempre vinham com uma conversa mole, uma verborragia vazia, sem início e fim, que longe de explicar as gritantes contradições entre o discurso e a prática (plagiando o Babajinan em seu debate com o Rodrigo Queiroz) apenas deixavam mais perguntas sem respostas.

Mas, um dia, Arapiaga deve ter acordado de um de seus "êxtases" místicos e revelado a resposta para as indagações que não somente eu, mas vários Umbandistas, seguidores, estudioso ou simplesmente simpatizantes das obras de Matta e Silva e, porque não dizer, do próprio Rivas Neto, tinhamos em relação as mudanças radicais e inexplicáves dos conceitos pregados por ele: os conceitos, as "verdades" escritas em suas obras (mesmo que supostamente trazidos por uma Entidade do Astral Superior) eram relativas e temporais.

Conversa para boi dormir !!!

Como escrevi em outro artigo, a mudança de conceitos e práticas por parte do Rivas e da OICD deve-se simplesmente à conveniência do mesmo em ter uma imagem de líder dentro do Movimento Umbandista. A tal "escola da síntese" é uma tremenda jogada de marketing, já que não seria possível para alguém estar à frente de uma Faculdade, que tem um conceito universalista, expondo práticas errôneas e espiritualmente falidas daqueles que ele necessita estar ao seu lado para dar legitimidade aos seus planos.

Rivas Neto tentou dominar a Umbanda Esotérica, legado de Matta e Silva. Lançou alguns livros, alguns simplesmente extratos de "Umbanda - A Protosíntese Cósmica", mas como não fez o sucesso e nem teve o retorno financeiro que pretendia mudou a estratégia.

Então, volta seus olhos às sua origens no Omolokô, Angola, e só Oxalá mais sabe de onde ele saiu, e passa a defender uma convergência, uma "síntese", onde, para resumir tal idéia, todo mundo está certo, independente das práticas que leva a cabo. Tudo é Umbanda, tudo pode, tudo é válido.

Mas nem sempre foi assim.

Na sua obra Lições Básicas de Umbanda (Editora Ícone, 3ª Edição ampliada e revisada, 1997), em sua página 48, 3º parágrafo, lemos o seguinte, in verbis:

(...) Nesses congás não há o uso de imagens, atabaques, palmas e outros objetos musicais. Também não há danças e nem roupas multicoloridas ou de tipo idèntico aos usados no culto da Nação Africana. Não há profusão de colares de conta de louça e vidro. Jamais há o uso de "cocares" e roupas que estilizem essa ou aquela Entidade. Não há também o uso, anacrônico e absurdo, de certos objetos primitivos, tal qual o arco e flecha, o machado, lanças, tacapes, etc.. No 1º modelo também não esse arsenal, essa parafernália improdutiva e fetichista que distancia o adepto da verdadeira Umbanda.

Engraçado... talvez por não ser um "iluminado" como o Rivas Neto, não consigo ver onde há o relativismo dos conceitos sobre o uso de atabaques, imagens, palmas, cocares, arco e flecha e outros "objetos primitivos" dentro dos rituais de Umbanda em 1997 e hoje em dia.

Aliás, Rivas Neto em uma das suas obras, assim como na extinta revista "Umbanda do Brasil", chega da dar explicações científicas sobre o efeito do som do tambor e das palmas sobre o psiquismo humano. Outrora o uso de cocares era considerado por ele como "parafernália improdutiva e fetichista", hoje o "caboclo" Urubatão da Guia (maleme, meu Pai, ele não sabe o que diz), pelo que percebemos em diferentes fotos e videos das gíras na OICD, tem uma coleção deles. Certamente, houve uma "nova revelação" por parte do Astral e o uso de cocares é um segredo iniciático há tempos oculto, que em 1997 não podia ser revelado àquele que se diz "Yamunisiddha", título pomposo retirado do esoterismo hindu, que se refere a uma condição de, praticamente, semi-deus, um avatar.

Mas continuando a nossa análise das conveniências do Rivas Neto.

Na mesma obra e edição supracitadas, em sua página 86, 3º parágrafo, temos o seguinte:

Há quem diga que a roupa, a comida, os axés, oa atabaques, as danças são do Candomblé. Concordamos... pois tudo o que foi citado realmente é do Candomblé. Mas quando dizem que isto tudo tambném existe na Umbanda ai se enganam, conforme já explicamos, iludidos que são por aqueles adeptos do Candomblé que, deixando seus antigos cultos, pretenderam, sem consegui-lo, praticar a pura e real Umbanda. Ignorantes completamente de seus fundamentos, como sempre estiveram, resolveram fazer uma "Umbanda" segundo as coisas que aprenderamem seus rituais de nação.

Mais adiante, completa:

(...) É, pois, nesses locais que vemos as "roupas de santo", as "comidas votivas", as matanças, as danças, os "toques de orixá" e até a saída dos orixás da camarinha ou roncó ou ainda barco, tal qual o Candomblé, mas dizendo ser Umbanda.

Esperamos ter deixado patente, de forma insofismável, que na verdadeira Umbanda inexiste qualquer desses "fundamentos".

Espantoso, não é mesmo?

Basta ver algumas fotos do Rivas Neto "incorporado" com o "caboclo" Urubatão da Guia para constatar o uso do cocar pelo mesmo. Os atabaques ressoam dentro do Templo da OICD, assim como convidados de uma gíra festiva à Oxossi ostentavam cocares, capacetes, espadas e tudo que outrora o Arapiaga (e o Astral Superior) condenava como "inútil", "fetichista" e não pertencentes à verdadeira Umbanda.

Será que, realmente, dá para acreditar que o Astral ensinava uma coisa como errada há apenas 11 anos e hoje é um "novo conceito", uma "nova verdade"tudo aquilo que antes era errado? Que "astral" confuso é este?

Não duvido que daqui a uns tempos veremos fotos de uma "saída de santo", com toda aquela produção de roupas, "plumas e paetês" própria de alguns Candomblés, dentro das dependências da OICD, assim como não me causaria espanto se a matança ritual já não tenha sido institucionalizada com uma desculpa esfarrapada qualquer de "novas verdades", "novos tempos".

Incrível como a "umbanda" pregada e praticada por Rivas Neto e os seus tem regredido ao invés de evoluído.

Estou muito curioso para ver algumas fotos de uma gíra de Exu feita por lá. Certamente, veremos Rivas Neto com uma capa preta e vermelha, cartola, tridente na mão e charutão na boca, no melhor estilo "exu" com ponto firmado no inferno.

Fico, sinceramente, aliviado que Rivas Neto e os seus já tenham declarado publicamente que não mais praticam a Umbanda Esotérica, caso contrário, Mestre Yapacani estaria se revirando na sepultura.