domingo, fevereiro 27, 2011

UMBANDA NO SUPERPOP... É O FIM DO MUNDO !!! (PARTE II)

Não é incomum evangélicos criarem histórias mirabolantes sobre as suas vidas antes de se converterem ao protestantismo, em especial depois da ascensão da Igreja Universal e outras arapucas do gênero. Afinal de contas, quem nunca assistiu os "testemunhos" de pessoas que se dizem "ex-pais e mães de encostos"?

As mentiras descaradas contadas pelos "fiéis" na televisão, no rádio e nos jornais evangélicos, onde a regra é dizer que viviam uma vida miserável, destruída, dominada por demônios e que após conhecerem a igreja x" ou "y" tudo se resolveu é uma jogada de marketing para atrair incautos.

Por outro lado, os pastores que testemunham sobre seu envolvimento com "satanismo" (que insistem em relacionar com a Umbanda, Candomblé e outros cultos afro-descendentes), elevam o status destes embusteiros ao grau de "guerreiros do Senhor", verdadeiros "cruzados modernos" que, livres das garras de Satanás, agora combatem o reino do mal na terra.

No caso do Pastor Carlos Ribas e do Bispo Gê, vemos claramente que o conhecimento deles sobre algo que dizem que estiveram envolvidos por muitos anos é sofrível.

Enquanto o primeiro entra em contradições (dizer que Vodu e Santeria são a mesma coisa, por exemplo), o segundo se contradiz ao contar que apaixonado por uma moça, foi levado por um amigo à um centro de Umbanda onde foi feita um" simpatia de amor para Yemanjá", para pouco minutos depois afirmar que freqüentava aquele lugar havia muito tempo antes de realizar tal trabalho.

O que vimos, para variar, no tal "debate" foram os evangélicos presentes citarem a Bíblia como ministros do Supremo Tribunal Federal citam a Constituição, ou seja, como se fosse um livro magno, que todos o seres humanos devem seguir e observar. Isto é o que se chama de "egocentrismo ideológico", que vem a ser a incapacidade do debatedor de sair de um ponto de vista e se postar de forma imparcial sobre determinado assunto.

Para não cairmos, exatamente, no egocentrismo ideológico e mantermos a imparcialidade sobre este lamentável "debate", falemos dos umbandistas ali presentes.

Não vi com bons olhos Pai Rafael d'Logunedê se prestar a sair às ruas à procura de oferendas, explicando para qual propósito serviam e, em determinado momento, pedindo que a equipe de filmagem se mantivesse longe enquanto ele examinava o ebó.

Nesta ocasião, ele vai para o meio da rua, se agacha e, tal e qual um perito em explosivo da polícia, examina à distância a oferenda para depois declarar que era seguro se aproximar. Em minha opinião, tal postura não desmistificou nada, pelo contrário, gerou mais temor nas pessoas, algo do tipo "se virem um despacho na rua, não se aproximem... é perigoso".

Na sequência, o Bispo Gê questiona sobre os números do IDH (índice de desenvolvimento humano) do Maranhão, alegando que apesar deste Estado contar com o que seria a maior concentração de terreiros do Brasil, na cidade de Codô, a qualidade de vida da população é das piores.

A resposta de Pai Cássio foi inicialmente tímida, preferindo centralizar a situação na figura de Mestre Bita do Barão, mas apresentando irrefutável argumento de que não sãos os sacerdotes ou as entidades que tomam as decisões políticas.

No que pese Pai Cássio ter classificado a pergunta como "inteligentíssima" e "pertinente", a mesma, no meu entender, é rasa e falaciosa. Se não, vejamos:

1) o maior país protestante do mundo, a Alemanha, apesar do alto IDH, enfrenta problemas sociais sérios como desemprego, mendicância, violência urbana (em especial por parte dos neo-nazistas).

2) os EUA está na mesma situação: é um dos países com a maior concentração de protestantes do mundo. Apesar de ser considerada a primeira economia do mundo, tem também a maior dívida interna do planeta. É um país que sempre está em guerra, em especial depois do 11/09, as principais crises econômicas (a mais recente deixou milhões sem onde morar) começam ali e assolam o mundo em efeito cascata. Quem não tem a felicidade de poder pagar um seguro saúde, está a mercê de um sistema público ineficiente e perverso, que exclui 46 milhões de pessoa e favorece as seguradoras que podem, inclusive, discriminar doentes.

Seguindo a linha de raciocínio do Bispo Gê, podemos perguntar: já que os protestantes em geral se dizem "o povo escolhido de Deus", por qual motivo estes dois países (podia citar outros...) passam por tantos problemas sendo que a maioria de sua população professa a fé evangélica?

O próprio Bispo Gê, ligado ao comando da igreja Renascer, responde a inquérito por acusação de ter contratado parentes de Sônia e Estevam Hernandes, fundadores Igreja Renascer, como funcionários fantasmas da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Ele também teve seu nome citado no escândalo da "Nossa Caixa" em 2005 e recentemente teve o inquérito 2947, que corria contra si junto ao STF, arquivado pela prescrição (quando o Estado não exerce no tempo legal o seu direito de ação).

Qual seria o motivo para que um "homem de Deus", com 30 anos de sacerdócio (como ele fez questão de frisar no programa) estar tão enrolado com a Justiça? Por que Deus não o livrou destas atribulações, seria o caso de perguntar seguindo seu raciocínio sobre o IDH de Codô.

A única coisa que se aproveita deste debate é que os umbandista ali presentes tiveram a oportunidade de passar a quem assistiu uma visão mais realista sobre a nossa religião e, principalmente, não cairam na evidente armadilha preparada para desmerecer o culto.

O preparo de Pai Cássio Ribeiro fez toda a diferença, não se deixando abater pela inferioridade numérica e sabendo muito bem tratar das questões expostas de forma brilhante e com conhecimento de causa.

Pelo jeito, ainda há esperança para o tal "movimento umbandista".