
Até ai não vejo nada demais, tirando o fato que o ex-bispo quebrou seus votos e, creio, que aquele que se dispõe a jurar solenemente sobre algo deve honrar tal atitude. Mas esta questão do celibato obrigatório para os sacerdotes católicos não funcionou no passado, não funciona no presente e não funiconará no futuro.
O que me surpreendeu mesmo foi a postura da CNBB, que através do seu porta-voz, Dom Orani Tempesta, teve o seguinte posicionamento sobre o assunto:
"Cada pessoa responde à fidelidade ou à infidelidade daquilo que promete. Acho que não cabe à igreja julgar ninguém, mas a cada um de nós, vendo as coisas, dizer se estou sendo fiel àquilo com que me comprometi."
Pera ai...
Não cabe a Igreja julgar ninguém?!? =/
A mesma Igreja que excomungou a mãe que autorizou a interrupção da gravidez da filha de onze anos que foi estuprada, assim como toda a equipe médica que levou à cabo o procedimento, vem dizer que não cabe à ela julgar ninguém?
Dom Orani poderia ter lembrado ao seu colega, o arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho, aquele que chegou a tentar impedir a interrupação da gravidez da garota estuprada, mesmo que tal procedimento tenha sido autorizado pelo judiciário, deste posicionamento da Igreja Católica.
Realmente é uma pena que o bispo Orani Tempesta não era clérigo católico à época da inquisição espanhola, já que este seu posicionamento teria poupado milhares de vidas ceifadas por Torquemada e seus asceclas.
O corporativismo hipócrita da CNBB é tão descarado, que nem seria preciso dizer mais nada.
A tentativa do orgão máximo da igreja romana no Brasil, sendo também o mais influente do continente, em minimizar a responsabilidade do ex-bispo demonstra como Bento XVI, como bem assinalou o vaticanista italiano Marco Politi em recente entrevista ao jornal "Folha de São Paulo", comporta-se de forma errática e paradoxal.
Não é à toa que o catolicismo perde fiéis aos milhares para outras religiões, em especial as evangélicas, visto que insiste em posturas arcaicas, uma estrutura falida e tradições que estão, simplesmente, na contra-mão da moderna sociedade mundial.
De toda forma, esta é uma excelente lição não somente para os católicos, mas também para nós, umbandista, já que estamos em uma época onde a maioria dos adeptos de nossa religião anda apostando todas as "fichas" em lideranças que, com raríssimas exceções, seguem rumos obscuros, erráticos e, principalmente, contraditórios.
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Foto: Antônio Cruz - Agência Brasil - Radiobrás
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