E Anhangá te proíbe sonhar!
E tu dormes, ó Piaga, e não sabes,
E não podes augúrios cantar?!
(Trecho do poema "O Canto do Piaga", de Gonçalves Dias)
Ainda sobre o o e-mail do meu amigão Obashanan, onde ele, com toda a "sutileza e respeito" que lhes são próprios, fala mal de mim, de Mestre Tashamara, Mestre Arashakamá, etc, inclusive, falando, para variar, mais um monte de bobagens, em especial sobre origem e traduções de nomes.
Senão, vejamos:
Nomes de iniciação são nomes dados por verdadeiros iniciados. Surgem quando o discípulo está pronto para uma nova vida e seu nome surge por um levantamento sério através da compreensão dos alfabetos sagrados, da lei de pemba e da cabala ancestral. Possui uma ligação muito intensa com a verdade de seu mentor espiritual. Ou seja, Arashakamá significa "Orixá do prazer" ou em sentido hierático, o orixá da cama Arasha=orixá; Kama = prazer, raiz indoeuropéia que deu no sânscrito Kama, no latim Cama e nas raízes etruscas do verbo amar. O que isso quer dizer? No mínimo que seu "mestre" não sabia o que estava fazendo, ou há mistérios não revelados por trás desse nome.
Percebam que depois de interpretar o nome do Mestre Arashakamá, conforme a sua conveniência, assim como, para variar, acusar pessoas de traidoras, Yan KAÔ, fecha o parágrafo afirmando: "No mínimo que seu "mestre" não sabia o que estava fazendo, ou há mistérios não revelados por trás desse nome."
Pois bem, então, se para ter legitimidade, o nome iniciático deve, igualmente, possuir uma tradução plausível e literal, vejamos qual é a tradução de ARAPIAGA.
O prefixo "Ara", no idioma Tupi, significa "ave, pássaro" e "Piaga", pelo que consta, foi um neologismo introduzido por Gonçalves Dias em seu poema "O Canto do Piaga", afim de designar a pessoa de um "pagé". A tradução, ao pé da letra, como sugere Obashanan para o nome de outros iniciado, seria algo como "Pássaro Pagé".
Isto faz algum sentido? Para mim, particularmente, nenhum.
Sou proprietário de uma pequena biblioteca, que hoje deve abrigar trezentos volumes. Tenho algumas gramáticas e dicionários da lingua Tupi e alguns de seus dialetos, e em nenhum deles encontrei o termo "Arapiaga".
Consultei então, o estudioso Roberto Harrop Galvão, que enviou-me a seguinte resposta, via e-mail:
"Os dicionários realmente não registram o termo "arapiaga". "Ara" poderia ser "ave, pássaro" e "piaga" foi um neologismo para "pagé" introduzido por Gonçalves Dias no seu poema "O CANTO DO PIAGA". (O canto do pagé). Na ausência de uma tradução oficial, cabe especular sobre o significado desse termo."
Isto me faz lembrar que fiz consulta semelhante ao citado estudioso sobre o nome "Araobatan", usado pelo Sr. Roger T. Soares, discípulo antigo de Arapiaga e diretor da Faculdade de Teologia Umbandista, e também "Aramaty", nome iniciático do Sr. Silvio Garcez, igualmente discípulo do citado Mestre e presidente do CONUB. As resposta foram as seguintes:
"As três palavras abaixo muito provavelmente têm a mesma origem: YBIRAPITANGA, que se deturpou em IBIRAPUTANGA e em BIRAPUTANGA em BIRABUTAN e daí para ARABUTAN. Eu já vi nos cronistas do século XVI o termo ARABUTAN como corruptela deYbirapitanga, o pau Brasil. Ibirá frequentemente se transforma em BARA, BRA e ARA (Ybiraúna, Buraúna, Braúna... (Ibyrae'~e, Buranhem). Portanto, os vocábulos YRABITAN, ARAOBATAN e ABARYTAN têm muita probabilidade de serem variações corrompidas de IBYRAPITANGA. Não descarto, todavia, a hipótese de YRABITAN ser um anágrama de Ybiratan (pau duro). ARAMATY não faço idéia. Esta palavra não soa como Tupi."
Em resumo: se realmente os nomes iniciáticos devem ter uma tradução, como quer Yan Kaô, a começar pelos nomes do seu próprio Mestre e irmão de Ordem, a coisa complicou. Os vocábulos "Arapiaga" e "Aramaty' não existem em Tupi, e no caso de "Araobatan", o que mais se aproxima é "Arabutan", como explicado, que seria uma corruptela de Ybirapitanga, que se refere ao nosso Pau Brasil e pode ser traduzido como "madeira vermelha".
Sobre o nome "Obashanan", nem vou comentar, porque é impossível qualquer tradução literal do mesmo.
Enfim, como meu velho pai sempre diz: "Não jogue pedras no telhado dos outros, em especial quando o seu for de vidro".