domingo, julho 27, 2008

GUERRA DO TAMBOR

A grande inspiração para os meus textos vem das listas de discussões além, é claro, das conversas com outros umbandistas e minhas pesquisas neste imenso "terreiro virtual" chamado internet.

Lamentável como as coisas dentro do movimento umbandista evoluem de forma negativa, sendo que os interesses financeiros, a vaidade e prepotência é o que vem manchando a nossa Religião faz tempo.

Depois das guerras entre partidários de Rivas Neto e Rubens Saraceni (que ainda não terminou) nas listas, para determinar quem é o verdadeiro "papa da umbanda", quem inventou a primeira escola/curso de teologia umbandista e todas as outras dezenas de picuinhas entre os dois, nos deparamos com uma verdadeira "guerra do tambor", já que o batuque, os atabaques, no contexto da assim chamada "música sacra umbandista", está em alta.

É um tal de "curso de curimba", "festival da música umbandista" e uma montanha de outros eventos relacionados e, claro, muito lucrativos, que todo mundo hoje em dia quer ser ogã, alabê, e ter sua própria escolinha. Tem gente até mesmo afirmando que qualquer um pode ser Ogã/Alabê, bastando comprar uma tambor, saber afiná-lo mais ou menos e aprender os "ritmos".

Mais papo furado daqueles que insistem em vender ilusões e encher seus bolsos com elas.

Quem realmente entende do "riscado", sabe que "levantar" um Ogã/Alabê dentro de uma Casa de Culto é algo muito mais complexo do que escolher um percussionista dentre os "filhos-de-santo". Esta mesma turminha que grita aos quatro ventos que deseja "preservar a tradição" é a mesma que anda produzindo "ogãs" em série, com baixissimo controle de qualidade, diga-se de passagem, com suas escolinhas.

Mas não entrarei no mérito da preparação ritualística do Ogã/Alabê, visto que não é o escopo do presente artigo. Mesmo porque, apesar de conhecer todo o processo, a doutrina que pratico não se utiliza de tambores.

Para variar, como tudo que fazem dentro da Umbanda, o pessoal da OICD arvorou-se em senhores e detentores do "verdadeiro segredo" de se preparar e tocar atabaques na figua de Rivas Neto (Arapiaga) e de William do Carmo Oliveira, conhecido como Obashanan, Yan Kaô ou, simplesmente, William de Ayrá.

Tive a oportunidade de ouvir o disco "Ayon Lonã" que o mesmo gravou e, sinceramente, não é ruim. Não que seja uma obra prima da percussão ou, como ele gosta de dizer, da "música sacra umbandista" ou "música de raiz", mas é um registro interessante e importante dos ritmos sagrados utilizados nos Terreiros.

Enfim...

Não pretendo também fazer uma crítica ao trabalho musical de Obashanan, mas sim ao clima de "guerra" que, como sempre, surge diante de qualquer iniciativa no meio umbandista.

A briga entre a OICD de Rivas Neto e o Colégio de Umbanda Sagrada de Rubens Saraceni, volta-se para os palcos e cd's. As mais variadas acusações
, que vão do desafino ao plágio, assim como a pretensão de que somente Wiliam de Ayrá conhece os "22 toques", somente ele saber tocar atabaque, e a troca de farpas, alimentadas pelos puxa-sacos de plantão de ambos os lados, entre ele e Jorge Scritori, é somente mais um censurável episódio desta batalha ridícula e sem propósito entre as duas correntes.

Assim como ouvi o trabalho de Obashanan, fiz o mesmo com o de Scritori.

O CD "Amigo Saraceni" revive aquela tendência dos anos 60/70 de gravar discos de pontos de Umbanda. Não é um trabalho primoroso tecnicamente falando, ficando em desvantagem em vários quesitos se formos comparar com o trabalho de Obashanan. Mas é um registro musical válido da vivência e da doutrina pregada por Saraceni e seguida por Scritori.

No que pese a qualidade do trabalho de William de Ayrá, a vaidade e ego inflado dele e dos demais membros e simpatizantes da OICD, faz a coisa cair por terra. Ter a pretensão de serem os únicos a ter acesso à alguns segredos e, principalmente, acreditar que ninguém mais conhece os "22", "30", "40", "70" (seja lá quantos forem) ritmos sagrados é um pouco demais até mesmo para eles.

A música sempre foi uma forma de união e aproximação entre as pessoas e Nações, vide a Filarmônica de Nova York se apresentando em Pyongyang (Coréia do Norte), mas no atual movimento umbandista, infelizmente, se tranformou em arma.