sábado, julho 12, 2008

"A RÃ E O ESCORPIÃO" EM UMA VISÃO UMBANDISTA

O fogo crepita feroz e avassalador.

Na margem do largo rio que permeia a floresta, encontram-se dois inimigos figadais: a rã e o escorpião.Lépida e faceira, a rã prepara-se para o salto nas águas salvadoras. O escorpião, que não sabe nadar, aterroriza-se ante a morte certa, estorricado pelas chamas ou impiedosamente tragado pelas águas revoltas.

Arguto e num esforço derradeiro, implora o escorpião:

— Bela rã, leva-me nas tuas costas na travessia do rio!

— Não confio em ti! Teu ferrão é inclemente e mortal — responde a rã.

— Jamais tamanha ingratidão. Ademais, se eu te picar, é morte certa para nós dois.

— É verdade — pensou candidamente o bondoso batráquio. Então suba!

E lá se foram irmanados e felizes. No entanto, no meio da travessia, a rã é atingida no dorso por uma impiedosa ferroada. Entremeando dor e revolta, trava o derradeiro diálogo:

— Quanta maldade! — exclama a rã, contorcendo-se. Não vês que morreremos os dois?

— Sim, responde o escorpião, mas essa é a minha natureza!

Pode parecer que não, mas esta fábula traduz bem o que vem acontecendo faz algum tempo dentro do Movimento Umbandista. Porém, dependendo do contexto, o elenco troca de papéis: ora representam a rã, ora o escorpião.

No primeiro "ato" desta imensa peça chamada "Umbanda", temos alguns "Chefes de Terreiro", "Mestres", "Babalorixás", "Yalorixás", fazendo o papel de "escorpiões" e seus "filhos" e seguidores são as "rãs".

Os primeiros manipulam os segundos de forma a atender seus interesses, sejam eles financeiros, políticos ou, pasmem, até mesmo sexuais. Estes "escorpiões-do-santé" ficam confortavelmente agarrados às costas de seus seguidores, não raramente aproveitando-se de uma fé cega e idiota para tirar algum proveito, em especial neste nosso imenso mundo virtual.

São as "rãs" que ficam por ai defendendo seus "pais" e "mães" espirituais nas listas de discussões, ameaçando, intimidando ou sabotando iniciativas contrárias aos interesses de seus "escorpiões".

O que estes pobres "batráquios da fé" não sabem é que estão prestes a serem vítimas da sua falta de amor próprio e cautela, já que na primeira oportunidade, quando não mais forem úteis ou ousarem questionar qualquer conduta ou posicionamento do seu "chefe de terreiro", serão impiedosamente "picados" por eles.

A diferença entre o escorpião da fábula e aqueles que pululam no meio umbandista, é que estes últimos nunca morrem com as "rãs", pois somente as picam quando elas não mais se prestam aos seus interesses, sejam eles de qual natureza for.

No segundo ato, invertem-se os papéis.

Os escorpiões são os "filhos-de-santo", que vivem sugando de seus "Chefes de Terreiro" tudo que é possível. Estão à todo momento arrumando demandas, casos, intrigas... fomentando a maledicência e a cisânia dentro de suas Casas.

Não raramente, principalmente após conseguirem conhecimento, renegam a sua "paternidade" espiritual, saem da cobertura daquela Casa e passam a falar mal de seu antigo mentor. Estranhamente, não raro, apesar de "excomungarem" seus antigos "Babás", continuam seguindo à risca tudo o que aprenderam com os mesmos.

Estes "escorpiões", assim como os primeiros, nunca sacrificam suas "rãs" antes de sugarem tudo que for possível delas, para depois sairem dizendo que foram vítimas de pessoas "aproveitadoras" e tudo mais.

Neste universo umbandista, os "escorpiões", diferente da fábula, sempre se dão bem, de uma forma ou de outra, enquanto as "rãs" vão para o fundo do lago sozinhas. Eles jamais "matam" suas vítimas enquanto elas servirem aos seus propósitos.

E isto acontece todos os dias, já que a natureza das rãs é acreditar nas palavras dos escorpiões e a destes é trair.

Portanto, meu caro leitor e Irmão-de-Fé, analise bem qual o papel que está desempenhando neste grande teatro que a Umbanda se tornou e pergunte a si mesmo qual é a sua natureza.